quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Memória: o Dream Team (Olímpiadas de Barcelona, 1992)



Eu leio a última biografia da banda de rock Led Zeppelin que se chama "Quando os gigantes caminhavam sobre a terra". Meu primo, de uma geração anterior a minha, e que acompanhou a era dourada do grupo, olha pra mim sorridente, concordando com a escolha do título. No entanto, em minha cabeça uma outra geração (que nada tem a ver com a música) merece muito mais aquela alcunha. Porém, a grande questão é: até que ponto podemos chamar uma seleção de jogadores de basquete de gênios? Não seria exagero? Honestamente, quem não presenciou ou assistiu o Dream Team de basquete dos EUA nas olímpiadas de Barcelona em 1992, não faz ideia da revolução que esses "seres celestiais" causaram na história da competição.

Até então basquete profissional em Jogos Olímpicos era proibido. Os atletas enviados para representar suas nações eram, em sua grande maioria, oriundos das ligas universitárias ou completos amadores. Até aquele fatídico ano de 1992. Inicialmente, a expectativa era de apenas mais uma disputa equilibrada, principalmente entre americanos e soviéticos (como, aliás, vinha sendo a rotina na modalidade até então). Contudo, algo de mágico, de inesquecível, inimaginável na mente de qualquer torcedor, aconteceu. Aqueles homens levitavam, deslizavam, pareciam soldados num campo de batalha quando marcavam homem a homem. Eram praticamente máquinas. E ninguém era capaz de pará-los, por mais que tentassem.

Também você queria o quê? Uma seleção que contava com os esforços conjuntos e o talento de nomes como Michael Jordan, Magic Johnson, Patrick Ewing, David Robinson, Larry Bird, Karl Malone, Charles Barkley... Não precisava de mais nada para faturar a medalha de ouro. O técnico (só para constar, o seu nome era Chuck Daly) era mera figura decorativa diante daqueles titãs da bola. Os adversários, tombados um a um, por uma diferença de score que girava em torno de 30 pontos a cada etapa da competição, ficavam perplexos diante da grande brincadeira que aquelas máquinas de jogar bola estavam oferecendo aos espectadores, que iam ao delírio repetidas vezes, a cada enterrada ou cesta de três pontos convertida. Não houve ninguém capaz de inibi-los ou estragar a festa.

Em poucas palavras, é fácil definir uma equipe como essa: eles foram o correspondente, no basquete, da seleção brasileira de futebol na Copa do Mundo de 1970. Nas Olímpiadas seguintes, a delegação norte-americana ainda tentou continuar o legado (ou marketing) com um suposto Dream Team 2. Pura perda de tempo! Mal sabiam eles que aquele era um fenômeno temporal, que existiu para durar apenas aquele tempo exato da competição, entrar para história e nada mais. Nunca mais houve uma equipe como aquela. Até hoje especialistas no esporte tentam encontrar explicações plausíveis para entender o que aconteceu de fato naquele ano.

"Os deuses estiveram na terra", eu lembro de ter dito ao meu vizinho, na época, ao final da partida que lhes daria a medalha de ouro. E, acreditem, foi realmente isso que aconteceu.

10 Jogadas Inesquecíveis:

sábado, 20 de novembro de 2010

Lendas: Jimi Hendrix (1942-1970)



Algumas pessoas precisam de muito pouco para se tornarem geniais, lendárias, indispensáveis. Jimi Hendrix foi uma delas. Ele não é chamado de o maior guitarrista de todos os tempos à toa. Há um motivo bem claro para tal façanha: ele ousou. E muito. De uma maneira que muitos, na época e até mesmo nos dias de hoje, não teriam coragem de ousar. O menino de raízes indígenas, que conviveu muito cedo com tragédias pessoais (como o divórcio dos pais e a morte da mãe, quando ele era apenas um adolescente de 16 anos), aos cinco viu seu mundo mudar quando ganhou de presente sua primeria guitarra. Estavam abertas ali as portas do éden musical para Hendrix.

Influenciado de forma maciça por gigantes do blues como B. B. King, Muddy Waters, Howlin' Wolf, Albert King e Elmore James e continuando o legado de guitarristas de Rhythm and Blues e Soul como Curtis Mayfield e Steve Cropper (isso, é claro, sem deixar de lado sua paixão pelo jazz moderno), Hendrix revolucionou o gênero e mudou definitivamente a forma de se apresentar para o público portando uma guitarra. O jovem que queria fazer com seu instrumento "o que Little Richard fez com sua voz", fugia do convencional sempre que era viável. Seus amplificadores eram sempre distorcidos, crus, escolhidos a dedo por valorizar os agudos e os riffs que tanto admirava. Além disso, popularizou o pedal Wah-wah no rock n' roll, que lhe permitia dar um timbre exagerado em seus solos, levando a plateia ao delírio.

O canhoto de estilo único, que deu a tão indesejada microfonia um sentido artístico, conseguia transformar sua guitarra - a preferida era sempre uma Fender Stratocaster - em qualquer coisa que desejasse: de uma metralhadora furiosa ao grito desesperado de uma mulher. Esse era o diferencial de Jimi. Sucessos não faltaram ao longo da curta carreira, dentre eles destaco aqui entre os meus preferidos, Hey Joe, All Along the Watchtower, Voodoo Child, Foxy Lady e a apocalíptica (interpretação exclusivamente minha) Purple Haze.   

Apesar de suas apresentações antológicas no Festival de Woodstock (em 1969) e na Ilha de Wight, no ano seguinte, a grande apoteose de Hendrix foi mesmo no Festival Monterey Pop (em 1967), com a presença ilustre, na plateia, de celebridades como Mick Jagger, Pete Townsend e Eric Clapton, entre outras feras. O ponto máximo do show - quando o artista põe fogo a sua própria guitarra, numa espécie de simbolismo às vítimas de guerras passadas nos EUA - até hoje é considerado por críticos conceituados como um dos maiores marcos da história da música no mundo. Lembro que quando assisti ao espetáculo no canal a cabo Concert Channel fiquei simplesmente estático diante da tela, pois nunca tinha visto antes algo do tipo.

Apesar da morte prematura e em circunstâncias até hoje não muito bem explicadas (o que, logo de cara, faz com que os fãs se perguntem a que nível o guitarrista teria chegado se ainda estivesse vivo!), pensar em Hendrix certamente é assunto para muitos estudos acadêmicos, matérias especiais em revistas e teses de doutorado. "Como ele conseguia fazer aquilo?", eu até hoje me pergunto. Por que nas suas mãos aquele pequeno artefato parecia tão gigantesco e simples de ser manuseado? Perguntas como essas, infelizmente ficarão sem respostas. Ainda bem que, pelo menos, seu registro musical é eterno e ainda pode conquistar gerações de admiradores ao redor do mundo!

Momentos mágicos do gênio:

Purple Haze:
Voodoo Child:
 

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Quadrinhos: "O Chinês Americano", de Gene Luen Yang



Qual foi o jovem na face da terra que já não se perguntou a respeito de qual o seu papel na história da humanidade? É, meus caros amigos visitantes desse cínico blog! Parece uma tarefa quase impossível dissociar as palavras juventude e conflito quando estamos nessa fase, não é mesmo? Nessas horas sempre me lembro da genialidade de William Shakespeare ao criar Hamlet, o adulto juvenil, cheio de questionamentos, capaz de qualquer coisa para vingar a morte do pai. Na história a seguir, essas indefinições estão bastante presentes na vida do protagonista, senão para encucá-lo cada vez mais, para fazê-lo desistir a qualquer custo do caminho a ser traçado.

Vejamos: um rei macaco em busca de aceitação como realeza, um garoto asiático tímido lutando contra o preconceito de viver numa terra estrangeira e um primo chato que, ano após ano, vem infernizar a vida de um garoto americano cheio de conflitos existenciais. Três histórias que, na verdade, são a mesma e única história. Em O Chinês Americano, graphic Novel de Gene Luen Yang, é apresentada aos leitores uma narrativa que teria tudo para se tornar uma saga sobre redenção ou mudança de atitude. No entanto, o que se percebe é que o verdadeiro problema em xeque aqui é a questão do respeito à sua própria identidade, independente do lugar onde se viva.

Seja através de relacionamentos amorosos frustrados, seja pelo descrédito dos outros que o vêem como uma ameaça só por ser de uma etnia diferente, seja pelas verdadeiras amizades que ele consegue estragar ao longo do caminho, Jim Wang - o nosso personagem envergonhado e cheio de dilemas morais e recalques - vai se arrastando (é bem esse o termo!) por uma vida sem viço, procurando por respostas nos lugares mais difíceis e acreditando verdadeiramente que a única maneira de viver plenamente é sendo aceito pelos demais (ou seja, traindo a sua própria essência como cidadão asiático).

Contado de uma maneira simples e sem as reviravoltas fabulosas com que costumeiramente os quadrinhos mais vendidos têm se apegado para conquistar uma multidão de fãs, o quadrinista cria um mundo mágico, aproveitando-se de uma antiga lenda chinesa, recontada aos dias de hoje,  e mostrando que muitas vezes a felicidade que tanto procuramos fora de nossa rotina, na maior parte do tempo está dentro de nós.

Uma publicação singela que se tornou a primeira história em quadrinhos a ser indicada ao National Book Award, um dos maiores prêmios literários do mundo, e atingindo a categoria sublime de obras gráficas essenciais como Maus, de Art Spiegelman e Avenida Dropsie, de Will Eisner. Em poucas palavras: um "colírio" para os olhos de qualquer fã da nona arte.

 

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Cinema Cult: "Rede de Intrigas", de Sidney Lumet



Desde que a televisão foi criada com o propósito de se tornar uma caixa mágica, sedutora, capaz de oferecer sonhos para seus espectadores, a sociedade passou por um processo de decréscimo intelectual gigantesco. Nunca se preferiu tanto a alienação ao conhecimento como nos atuais tempos caóticos em que vivemos. Contudo, sempre fiquei me perguntando: "E antigamente? Como se dava essa influência? O que os antigos produtores das redes de TV e corporações de mídia faziam para atrair seu público e mantê-lo devidamente adestrado em frente a seus aparelhos, desejando cada dia mais e mais espetáculo, sonhando com mais intensidade do que nunca uma vida de glamour e status como os dos personagens ficcionais?

Rede de Intrigas, de Sidney Lumet, responde a grande parte dessas perguntas (e olha que se trata de uma produção realizada num tempo em que a TV não se escondia atrás de tecnologias de captação de imagem, mujito menos apregoava seu sucesso a selos como HD, 3D ou outros modelos de exibição!). Numa América devastada pela derrota no Vietnã, em que ideologia e valores simplesmente não significam mais nada para a população - um retrato mórbido do "The dream is over", que John Lennon tanto enfatizou em seu discurso pop/rock -, e com a programação televisiva passando a ser o único antídoto contra todo tipo de mal-estar vigente, um homem angustiado e às vésperas de ser demitido decide levantar-se contra os poderosos e o sistema opressor que vigora ceifando vidas como se fossem brinquedos descartáveis. E ele acredita piamente que essa é a única forma de fazer a população cair em si.

Seu nome é Howard Beale (uma magnífica interpretação de Peter Finch), jornalista de rede de mídia UBS que, com suas alucinadas apresentações, informando que se suicidará, condenando as autoridades, expondo falcatruas e escândalos de uma maneira um tanto sarcástica e paranóica, atinge em cheio o interesse do público e, consequentemente, dos gestores da rede, que passam a vê-lo como uma mina de ouro para salvar a emissora da crise financeira. Porém, quando a língua ferina de Howard começa a disparar contra quem não deve (os chamados "intocáveis" do mundo televisivo), os dirigentes começam a perceber que o feitiço pode virar-se contra o feiticeiro e caso não tomem as rédeas da situação o caos instaurado pode ser muito pior do que qualquer pico de audiência, acarretando no fim da própria corporação que patrocinou o espetáculo midiático.

O que se percebe, ao fim das mais de duas horas de filme, é que em pouco mais de três décadas o cenário do mundo corporativo não só continuou o mesmo, como a mentalidade da população piorou - e muito!. Um mercado que continua aproveitando-se de messias os mais diversos e profetas charlatanescos e abusando da má-fé com o público espectador para conquistar suas audiências arrebatadoras e vender produtos os mais diversos, sem se importar com qualquer tipo de ética. Rede de Intrigas é aquele tipo de película que deveria ser obrigatória no curriculum de qualquer instituição de ensino (do fundamental ao universitário), por expor as mazelas construídas a toque de caixa por um grupo seleto de criminosos que se escondem sob o título de "empresários", mas que na verdade, são um dos maiores responsáveis pelo nível de alienação que invade os domicílios diariamente.

Uma produção que deveria atingir a todos, mas que infelizmente, por falta de instrução adequada e de interesse de uma minora covarde, acaba por atingir apenas parcelas irrisórias da população. O que, no final das contas, é uma grande lástima!

Trecho do filme:

sábado, 6 de novembro de 2010

Literatura: "O Campeonato", de Flávio Carneiro



Como leitor inveterado de romances policiais estou sempre em busca de obras originais, que fujam do senso comum e do oráculo da mesmice que invadiu alguns segmentos do mercado editorial contemporâneo. Nada me atrai mais do que uma história no gênero que fuja dos padrões habituais com os quais estou acostumado a me deparar com frequência (tais como: serial killers, crimes passionais e a clássica acusação ao mordomo - leia-se sempre: a figura mais insuspeita de toda a trama - como assassino desvendado nas páginas finais). Em O Campeonato, de Flávio Carneiro, tive uma das experiências mais inusitadas e divertidas dos últimos anos. O autor exibe todo o seu talento em uma prosa satírica que segue a trilha de grandes autores como o brasileiro Rubem Fonseca e os estrangeiros Ben Elton e Elmore Leonard.

Um conto antigo, uma seita alucinada composta por executivos do mais alto escalão, um homem comum em busca de sustento e muita confusão: esses poucos elementos, quando reunidos, fazem do romance uma criação fenomenal. A trama é simples: André é o típico vagabundo carioca. Não para em um emprego sequer, vive se engalfinhando com sua namorada num relacionamento mais do que desgastado e seu único amigo é Gordo, um beberrão notório cujo único talento é tramar conspirações e contar suas travessuras numa mesa de bar. A única coisa na qual o protagonista dessa história é bom chama-se leitura. André lê vorazmente e, de preferência, histórias policiais. E pensando ver nisso algum tipo de dom decide fazer um curso de detetive por correspondência e tornar-se profissional do ramo. O que ele não imaginava é que o seu primeiro cliente, o destemido empresário Montenegro, na ânsia de descobrir o paradeiro do filho desaparecido há alguns meses, iria colocá-lo em rota de colisão com um mundo torpe e extremamente cruel.

Apoiado pelo eterno parceiro de copo/amigo de bar e pela bela Mariana, a quem conhece ao longo da investigação (e por quem se apaixona), André vai decifrando aquele universo cheio de malícia e revestido por um grau absurdo de arrogância e abuso de poder. Transitando por entre festas glamourosas da alta roda e centros religiosos como o do espiritualista Santo, peça-chave no entendimento do que aquele mundo doentio representa e o que ele é capaz de fazer com qualquer pessoa que atravesse o seu caminho, o detetive de primeira viagem percebe que sair vivo ao final dessa história já é, por si só, um belíssimo honorário por seus serviços prestados.

Flávio Carneiro atiça o leitor a cada parágrafo com um senso de humor muito bem dosado e que me remete a antigos livros policiais do mestre Marcos Rey, idealizador do programa infantil Vila Sésamo aqui no Brasil e também um virtuose da palavra quando o assunto é história criminal. Mostrando os contrapontos existentes entre a zona sul carioca e certos bairros emblemáticos do subúrbio, a saga de André parece, em muitos aspectos, com aqueles sonhos que todo jovem movido unicamente pela curiosidade já teve algum dia, querendo decifrar algum tipo de mistério. E para compor esse quadro, o autor utiliza-se de ferramentas básicas do gênero: mulheres bonitas, tramóias as mais diversas, megaempresários inescrupulosos envolvidos em algum tipo de falcatrua ou clã misterioso e muitas reviravoltas, para dar liga ao enredo.

Engraçado e sem soar apelativo em momento algum, O Campeonato é a pedida ideal para quem procura uma leitura descontraída e instigante. Diferente de certas "novidades" que andam dando as caras ultimamente nas pratelerias das livrarias!



terça-feira, 2 de novembro de 2010

Opinião crítica: O ridículo venceu (ou notas tardias para o VMB 2010)



Entro na Saraiva Megastore do Norte Shopping pela quinquagésima vez (não dá pra resistir: eu amo livrarias e a capacidade inebriante que elas têm de me conquistar oferecendo tão pouco!) e vejo, entre uma pilha de livros relegados a segundo plano, os chamados saldos - a garotada de hoje só quer saber de Stephenie Meyer e J.K. Rowland - um exemplar curioso: Como a picaretagem conquistou o mundo: equívocos da modernidade, de Francis Wheen. Imediatamente meu desconfiômetro preciso e biológico reage ao que os olhos simplesmente não querem crer que exista nessa seara que é o mercado editorial. "Que livro mais cínico", penso comigo, "típico escritorzinho de meia-tigela que quer ficar famoso a qualquer custo, escrevendo qualquer baboseira". Faz oito meses mais ou menos que essa cena aconteceu e hoje, vencido pelos fatos, confesso aqui nesse blog: o Sr. Wheen é, na verdade, um visionário e quase um profeta! Fomos vencidos pelo ridículo nessa era onde convergência e tecnologia andam de mãos dadas até se você quiser ir ao banheiro.

E o ápice desse meu desabafo tem a ver com a pouco mais de meia hora em que fiquei em frente a TV assistindo ao tão cultuado (hoje as novas gerações podem até chamá-lo de evento obrigatório, que não estarão cometendo nenhuma sandice) VMB ou Video Music Brasil 2010. Dá na mesma, mas o pessoal que é fã e não perde um ano sequer prefere a sigla, tem mais a ver com certos dialetos escritos em redes sociais como Orkut, Facebook, Twitter e outros formatos co-irmãos. Pois bem: falar do VMB é falar do retrato mais bem definido da bizarrice humana na contemporaneidade. Em nenhum outro programa da face da terra você acompanhará uma alcatéia - gosto de comparações com coletivos animalescos - tão grande de inúteis sem conteúdo algum ou simplesmente marqueteiros ridículos profissionais que fazem de tudo (e eu disse de tudo mesmo!) para chamar a sua atenção e, principalmente, conquistar a sua audiência.

Faço uma pausa rápida nesse momento para lembrar do indivíduo internacional mais famoso dessa classe que nasceu nos últimos anos, do homem que praticamente inventou essa profissão do "quero ser famoso a qualquer custo": o ator hollywoodiano Ashton Kutcher. Ele faz misérias - no mau sentido, é claro! - sempre muito bem acompanhado por sua câmera ou celular de última geração. Exibe seu corpanzil sarado pra dar e vender, tira fotos de sua mulher (a outrora exuberante e hoje plastificada Demi Moore) em trajes íntimos ou se despindo, pula na piscina da casa de outros amigos, também celebridades, trajando smoking, em meio a festas badaladas, aparece fumando maconha em lugares públicos, enfim... É o cara que melhor representa essa geração vazia. E o melhor: tudo disponível gratuitamente em seu perfil no Twitter, que lhe rendeu a fama de mais visitado do mundo e que é o verdadeiro Vade-Mécum dos desejos de dez entre dez desajustados de plantão. Por isso, aqui nesse texto ele é referência imprescindível.

Pego o mote desse gênio da idiotice e volto às terras tupiniquins e ao tão fantástico mundo do VMB. Teve de tudo que vocês jamais acreditariam que pudesse existir: Bento Ribeiro, filho do imortal da Academia Brasileira de Letras João Ubaldo Ribeiro, fazendo papel de bêbado e beijando uma mulher gorda na plateia ao saber de sua premiação (lógico que tudo devidamente combinado previamente), Danilo Gantili, repórter do CQC, muito "bem" acompanhado dos lutadores de MMA, verdadeiras enciclopédias de inteligência e humildade do mundo atual, o astro e bad boy do momento, o jogador do Santos Neymar e sua fantástica arrogância e esnobismo afiadíssimo para o evento, cantores os mais inusitados e fora do tom possível, como o pernambucano Otto e o grande vencedor da noite - que eu só fiquei sabendo no dia seguinte ao ler matéria no Jornal do Brasil - a banda Restart, uma mistura de... De quê mesmo? Deixa pra lá. Eu tenho até medo de responder. Sabrina Sato, do Pãnico na TV, que nem lembrava dos indicados da categoria que apresentou, o ícone do You Tube no momento, Felipe Neto, que fez "carreira" falando mal do Fiuk, filho do cantor Fábio Júnior, na internet. "Será que se eu falar mal dele fico famoso também?", me pergunto. Gente. Que festa! E olha que eu acompanhei menos de 40 minutos de espetáculo e já pude conferir todos esses talentos juntos.

Onde fomos parar como seres humanos? Chegamos definitivamente ao fundo do poço? É isso que chamamos de cultura? Ainda dá pra salvarmos nossa sanidade em meio a toda essa megalomania exagerada que invadiu as emissoras de TV, programas de rádio, as ruas, festas, bailes, raves, boates e outros points badalados? Não sei. Essas e muitas outras questões - que deixo logo claro que não são todas apenas minhas, pois alguns colegas tão assoberbados quanto eu quiseram contribuir com suas dúvidas e apreensões também - estão e pelo jeito ainda ficarão muito tempo sem serem respondidas, já que o idiotismo (esqueci de dizer que, de vez em quando, gosto de trabalhar com neologismos também) virou sinônimo ou, se quisermos ir mais além, marca registrada para classificar novos talentos. Talentos esses que eu não vejo, não ouço, não entendo. Só que eu sou um caso à parte. E casos à parte no Brasil normalmente são vistos como pessoas anormais e não viram manchete nos jornais.


Alguns momentos mágicos dessa "festa inesquecível":