sábado, 6 de novembro de 2010

Literatura: "O Campeonato", de Flávio Carneiro



Como leitor inveterado de romances policiais estou sempre em busca de obras originais, que fujam do senso comum e do oráculo da mesmice que invadiu alguns segmentos do mercado editorial contemporâneo. Nada me atrai mais do que uma história no gênero que fuja dos padrões habituais com os quais estou acostumado a me deparar com frequência (tais como: serial killers, crimes passionais e a clássica acusação ao mordomo - leia-se sempre: a figura mais insuspeita de toda a trama - como assassino desvendado nas páginas finais). Em O Campeonato, de Flávio Carneiro, tive uma das experiências mais inusitadas e divertidas dos últimos anos. O autor exibe todo o seu talento em uma prosa satírica que segue a trilha de grandes autores como o brasileiro Rubem Fonseca e os estrangeiros Ben Elton e Elmore Leonard.

Um conto antigo, uma seita alucinada composta por executivos do mais alto escalão, um homem comum em busca de sustento e muita confusão: esses poucos elementos, quando reunidos, fazem do romance uma criação fenomenal. A trama é simples: André é o típico vagabundo carioca. Não para em um emprego sequer, vive se engalfinhando com sua namorada num relacionamento mais do que desgastado e seu único amigo é Gordo, um beberrão notório cujo único talento é tramar conspirações e contar suas travessuras numa mesa de bar. A única coisa na qual o protagonista dessa história é bom chama-se leitura. André lê vorazmente e, de preferência, histórias policiais. E pensando ver nisso algum tipo de dom decide fazer um curso de detetive por correspondência e tornar-se profissional do ramo. O que ele não imaginava é que o seu primeiro cliente, o destemido empresário Montenegro, na ânsia de descobrir o paradeiro do filho desaparecido há alguns meses, iria colocá-lo em rota de colisão com um mundo torpe e extremamente cruel.

Apoiado pelo eterno parceiro de copo/amigo de bar e pela bela Mariana, a quem conhece ao longo da investigação (e por quem se apaixona), André vai decifrando aquele universo cheio de malícia e revestido por um grau absurdo de arrogância e abuso de poder. Transitando por entre festas glamourosas da alta roda e centros religiosos como o do espiritualista Santo, peça-chave no entendimento do que aquele mundo doentio representa e o que ele é capaz de fazer com qualquer pessoa que atravesse o seu caminho, o detetive de primeira viagem percebe que sair vivo ao final dessa história já é, por si só, um belíssimo honorário por seus serviços prestados.

Flávio Carneiro atiça o leitor a cada parágrafo com um senso de humor muito bem dosado e que me remete a antigos livros policiais do mestre Marcos Rey, idealizador do programa infantil Vila Sésamo aqui no Brasil e também um virtuose da palavra quando o assunto é história criminal. Mostrando os contrapontos existentes entre a zona sul carioca e certos bairros emblemáticos do subúrbio, a saga de André parece, em muitos aspectos, com aqueles sonhos que todo jovem movido unicamente pela curiosidade já teve algum dia, querendo decifrar algum tipo de mistério. E para compor esse quadro, o autor utiliza-se de ferramentas básicas do gênero: mulheres bonitas, tramóias as mais diversas, megaempresários inescrupulosos envolvidos em algum tipo de falcatrua ou clã misterioso e muitas reviravoltas, para dar liga ao enredo.

Engraçado e sem soar apelativo em momento algum, O Campeonato é a pedida ideal para quem procura uma leitura descontraída e instigante. Diferente de certas "novidades" que andam dando as caras ultimamente nas pratelerias das livrarias!



4 comentários:

  1. Daria um filme bacana esse livro do Flávio Carneiro.

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  2. De fato, a originalidade anda meio em falta no gênero... a comparação com Elmore Leonard me deixou interessado!

    Abs.

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  3. Nunca ouvi falar do livro ou do autor, mas anotei a tua dica.

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  4. Ja li e amei esse livro é,realmente, uma leitura bem instigante!

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