quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Cineastas: Martin Scorsese



Se Martin Scorsese tivesse se tornado padre como queria e era interesse de seus pais, será que teria sido um grande clérigo? Dúvidas à parte, a grande verdade é que sua cinematografia nunca deixou de render homenagens (ou críticas) ao modelo religioso que conheceu quando criança lá pelos idos da década de 50. O menino que conviveu num bairro onde criminosos, punguistas e prostitutas eram parte do cartão-postal do lugar e que estudou na Escola de Cinema de Nova York, aprendeu realmente a fazer filmes quando realizou a película Boxcar Bertha - lançado no Brasil como Sexy e Marginal - trabalho em que decifrou os segredos de se filmar rápido e gastando muito pouco. E verdade seja dita esse aprendizado aliado a paixão pelo Neo-Realismo italiano e a amizade com Brian de Palma (que lhe apresentou o ator Robert de Niro, ator-assinatura definitivo de seus principais filmes) marcaram definitivamente sua carreira.

Seu início se dá com Quem bate à minha porta?, em 1968, mas a glória e o reconhecimento só começariam a despontar realmente cinco anos depois com Caminhos Perigosos, onde começa sua parceria com De Niro, e com o antológico Taxi Driver, que trazia uma pequenina Jodie Foster começando a carreira ainda na pele de uma prostituta. Em 1977 o primeiro fracasso: o musical New York, New York, que quase foi a tampa no caixão de uma carreira até então bem sucedida. O resultado do filme foi tão abaixo das expectativas que Scorsese entrou numa depressão nervosa e teve de se afastar dos sets por três anos. Contudo, sua volta foi gloriosa com Touro Indomável, onde retrata a saga do pugilista irracional Jake La Motta. Uma produção até hoje considerada injustiçada, na opinião de vários críticos de renome, por não ter levado o Oscar de Melhor Filme na época.

Entre 1983 e 1985 Scorsese envereda pelo humor (de viés negro, é bem verdade!) e faz dois de seus melhores filmes menores: o anárquico O Rei da Comédia (com participação do humorista Jerry Lewis) e Depois de Horas (uma pequena obra-prima urbana até hoje subestimada pela crítica). Passada essa fase realiza duas produções que poderiam ter rendido melhores comentários e bilheterias, mas que acabaram compondo dentro da filmografia de Scorsese sem muito brilho: A Cor do Dinheiro (que contou com a dupla de astros Paul Newman e Tom Cruise) e a adaptação do polêmico romance bíblico de Nikos Kazantzakis A Última Tentação de Cristo (com Willem Dafoe como protagonista). Chegam aos anos 90 e o diretor volta aos dramas de máfia com Os Bons Companheiros (1990) e Cassino (1995), ambos baseados em romances de Nicholas Pillegi, além de fazer sua primeira incursão no suspense com Cabo do Medo, outra produção que sofreu críticas severas no período em que foi lançada.

Depois dos inexpressivos Kundun (que contava a história do Dalai Lama) e Vivendo no Limite (com Nicolas Cage na pele de um motorista de ambulância que ouve e vê os pacientes mortos que compõem a sua rotina diária), o diretor se volta para seu projeto mais ambicioso: o épico Gangues de Nova York, em gestação por mais de duas décadas, e apresenta a Hollywood o seu novo pupilo, o jovem e talentoso Leonardo Dicaprio (que lhe foi apresentado por De Niro, que trabalhou com o rapaz no filme O Despertar de um Homem). Com ele também realiza O Aviador, baseado na vida do milionário Howard Hughes, Os Infiltrados e o recente suspense penitenciário Ilha do Medo, adaptação do romance Paciente 67 do escritor Dennis Lehane.

Atualmente o cineasta divide sua atenção entre inúmeras tarefas: a pós-produção de seu mais novo longa, dessa vez estreando no gênero infantil, A Invenção de Hugo Cabret (com presença de Jude Law e Ben Kingsley no elenco), a finalização de seu mais novo documentário sobre a vida do Beatle George Harrison, administrando sua Film Foundation, uma organização não lucrativa criada por ele e dedicada á preservação de filmes mudos e ainda arranja tempo para produzir para o canal a cabo HBO a série televisiva Boardwalk Empire, sobre o período da Lei Seca, sucesso de crítica e audiência. Entre seus próximos projetos constam uma cinebiografia do cantor Frank Sinatra e um projeto que tem tudo para ser o grande filme do século XXI: The Irishman, filme de gângster que reunirá o trio Al Pacino, Robert de Niro e Joe Pesci.

O que mais a mente sórdida, analítica e perfeccionista de Scorsese aprontará para o público sedento por suas tramas cheias de corrupção e malícia? O que poderemos esperar desse menino que quase virou católico fervoroso? O tempo dirá. Mas que deixará a plateia de boca aberta, disso não há a menor dúvida.

Trailers:

Taxi Driver:
Os Bons Companheiros:
Caminhos Perigosos:  
Cassino
         

7 comentários:

  1. Eu apenas vi dois filmes da filmografia do diretor, mas tenho que falar, Scorsese tem uma carreira bem feita e sempre dá um show no quesito direção. Seu último trabalho, "Ilha do Medo" é um suspense de ótima qualidade!

    abs,
    sebosaukerl.blogspot.com

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  2. Scorsese é dos mais relevantes cineastas vivos, mas ao ler sua recapitulação da carreira dele me lembrei que sinto a energia dos filmes dele, mas não sinto ainda todas as recorrências temáticas do cinema dele. Anyway, que venha THE IRISHMAN!

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  3. Sou um estranho no ninho: não consigo louvar Scorsese. Acho que ele faz bons filmes, mas nenhum deles chega perto de me empolgar como empolga a maioria...

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  4. Simplesmente fabuloso. Um auteur que consiguiu se impor sobre a indu'stria hollywoodiana com o seu louvável talento. "Taxi Driver", "Touro Indomável" e "Os Bons Companheiros". Pronto, só essa trinca já mostra como Scorsese é magistral!

    bela retomada da carreira do "baixinho". Hehe


    abs!

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  5. Apesar de muitos defeitos (e estar aquém de trabalhos anteriores), dos mais recentes de Scorcese só gostei mesmo de "O Aviador" e "Os Infiltrados"! Mas, até "Os Bons Companheiros", ele era genial absoluto! Também gosto muito de "O Rei da Comédia"! Abração!

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