quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Literatura: "Bussunda - a vida do casseta", de Guilherme Fiúza.


Fazer rir nem sempre é a coisa mais adorável do mundo. E se levarmos em consideração a vida de Cláudio Besserman Vianna, o lendário Bussunda, personagem inesquecível da trupe do Casseta e Planeta, veremos que essa máxima é a mais pura verdade. Bussunda foi um cômico à frente do seu tempo: muito mais do que simplesmente fazer as pessoas caírem na gargalhada, ele ousou, arriscou, enfrentou barreiras que nem todo artista do seu quilate enfrentaria, em alguns casos pondo amizades até então eternas na berlinda. Tudo em prol da arte. Era isso que fazia de sua criação um divisor de águas na televisão brasileira. E para o escritor Guilherme Fiúza, autor da excelente biografia Bussunda: a vida do casseta, ele era muito mais do que isso, pois se tratava de um reacionário.

Ao longo das páginas muito bem defendidas por um prosa inteligente e sem deixar de alfinetar certas figuras do ideário cultural brasileiro, o que se percebe desde o primeiro parágrafo da obra é que era meramente impossível dissociar a imagem de Bussunda dos demais cassetas. Eles eram como um bloco compacto, sempre discutindo ideias, apresentando propostas e fazendo badernas - uma especialidade do grupo - juntos. Até porque o "rapaz que não servia para nada e só podia ser Bussunda na vida" jamais deixaria de lado seus comparsas, com quem vinha convivendo e tramando artimanhas desde os tempos de faculdade.

Peças no teatro que mais pareciam um atentado a sanidade mental e ao pudor das pessoas, revistas e pasquins que cobriam (para não dizer furavam os olhos) a moral vigente na época, com todas as incorreções políticas a que tinham direito, roteirista do programa TV Pirata, um dos maiores sucessos de audiência da história da televisão nacional e apresentador do Casseta e Planeta Urgente, primeiro grupo de humor a cobrir uma Copa do Mundo in loco. Isso só para começar. A vida de Bussunda era uma montanha-russa com direito a muitos loopings e adrenalina em demasia. Entretanto, que caiam na real aqueles que pensam que o comediante e o grupo agradaram a toda a torcida do Flamengo (time do coração do humorista). Pelo contrário: houve muitos processos, ídolos - como Zico - que chegaram a se ofender com certas brincadeiras que passaram do tom, entre outras desavenças. Contudo, ser contraditório fazia parte da gênese daquele palhaço dos tempos modernos.

Entre imitações de artistas e atletas os mais diversos - a de Ronaldo Fenômeno agradou até mesmo o próprio jogador - e alter-ego do Presidente Lula em suas sátiras ao mundo político (uma interpretação que virou sua marca registrada), Bussunda foi conquistando plateias ao redor do país, sem esquecer de tirar sarro com alguém sempre que tinha chance. Em contrapartida, o livro aborda nas entrelinhas, para aqueles que lerem atentamente, uma clara alfinetada ao surgimento do grupo como prenúncio do besteirol que iria se alastrar pelos programas de humor nos anos seguintes, tanto na emissora dos cassetas quanto nas concorrentes. E nem todo mundo ficou feliz com essa "novidade amarga". Uma prova clara de que não se trata apenas de um simples livro-homenagem, com a proposta de apenas narrar os momentos gloriosos do artista, uma persona única que não levava nada a sério.

Ao fim das pouco mais de 400 páginas, o leitor termina extasiado e profundamente satisfeito pela grata surpresa oferecida pelo livro. O retrato de um gênio cuja única coisa que jamais imaginou que seria na vida era um gênio. "Resumir Bussunda em poucas palavras", parece dizer o autor, "pode até ser bastante simples, vide sua irreverência constante. A grande questão é: como explicar que ele tenha feito tanto sucesso com tão pouca ambição?". Esse, certamente, é o maior legado deixado por esse registro investigativo dos mais elaborados.

 

2 comentários:

  1. e aí?

    Desculpa a sumiço aqui do seu blog e obrigado pela presença lá no 1/3...eu gosto do Guilherme Fíúza (mesmo só lendo O meu Nome Não é Johnny) e gosto mais ainda por ser jornalista e meu chará...fico imaginando se daqui a alguns anos também não publico algum livro-reportagem com o nome Guilherme Barreto na capa...mas isso é apenas um sonho...

    Gosto do displicência organizada (se é que isso é possivel) com que escreve, a ironia presente no seu texto, a precisão de detalhes, enfim, ele é muito bom....fiquei entusiasmado com o livro que vc indicou...espero poder lê-lo em breve...

    Abrs

    1terco3.blogspot.com

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  2. Gostava do Bussunda e nem sabia que tinha sido lançado um livro sobre a vida dele.

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