sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Animação: "O Expresso Polar", de Robert Zemeckis



Nos últimos anos eu tenho achado as festas de fim de ano um grande porre. Já foi tempo que eu curtia natal e reveillon ao lado da família com vontade. Hoje, por conta da hipocrisia em que o comércio exacerbado transformou a festa - não se tem mais a consciência de que a data representa a época do nascimento de Jesus Cristo, muitos nem mesmo sabem quem ele é, e o que importa é faturar em nome do papai noel, fenômeno de mercado criado pela Coca-Cola lá pelos idos da década de 1930, segundo fontes (im)precisas -, prefiro a solidão (ou, no máximo, poucos parentes), uma TV ligada num bom filme e que o dia passe rápido, de preferência sem me incomodar. No natal desse ano, entretanto, o SBT fez o favor de reexibir a animação O Expresso Polar, criada pelo diretor Robert Zemeckis (de sucessos de bilheteria e crítica como De Volta para o Futuro e Forrest Gump: o contador de histórias) com uma tecnologia pioneira que transformava os atores em personagens animados. Pois bem: rever a produção me fez lembrar de antigos natais nostálgicos e cheios de alegria descompromissada (algo que anda em falta em tempos de globalização capitalista).

A história do garoto solitário que na véspera de natal embarca no expresso ferroviário que o conduzirá, junto com crianças de todas as partes do mundo, para conhecer o pólo norte e a casa do Papai Noel em pessoa, mexeu com meu arquivo memoriográfico mental de um tempo em que dormir com um olho aberto na expectativa de que o bom velhinho deixasse algo na meia, na janela ou onde quer que fosse (e acreditem: esse lance da chaminé, aqui na América Latina, é um grande furo na história original que nunca é bem adaptado para outras regiões do mundo, principalmente para quem mora em países tropicais como o nosso) era o maior barato e sinal de que a sua infância, normalmente cheia de sonhos, ainda estava longe de ter os dias contados.

Um dos grandes méritos do sucesso do filme, em sua época de exibição, além do trabalho realizado por Zemeckis, foi o afinco com que o ator Tom Hanks se envolveu no projeto. Aqui, Hanks encara nada mais do que seis personagens, dentre eles o próprio Papai Noel, num esforço criativo que, pelo resultado final, deve ter sido um tanto desgastante. Um pena, contudo, que com o passar do tempo e a insistência do cineasta em usar novamente a tecnologia em seus projetos posteriores (o épico A Lenda de Beowulf e o também natalino Os Fantasmas de Scrooge, baseado em clássico literário de Charles Dickens) o encanto tenha se perdido, bem como as bilheterias modestas - se levarmos em consideração o custo dessas produções - tenham alicerçado o insucesso do formato.

O legado deixado pela película, que vai muito além de um mero entretenimento infantil, tem a ver com um conceito que a atual sociedade não tem demonstrado muito interesse nos últimos anos: memória. Por vivermos numa era tão imediatista e onde tudo é lucro - motivos mais do que suficientes, como disse no início desse texto, para ter me desencantado com esse período de festas que encerra o ano - parece que estamos perdendo, gradualmente, a capacidade de nos encantarmos com as pequenas coisas da vida. E O Expresso Polar nos faz o favor de trazer um pouco desse lúdico, desse modesto, de volta às nossas vidas. E quem não gostaria de ser criança pelo menos mais um vez, nem que fosse para relembrar por poucos instantes tudo que a idade adulta e as exigências da maturidade o fizeram esquecer?

Trailer do filme:
 

6 comentários:

  1. Falam muito mal desse filme. Eu gosto muito desse filme.

    Cumps.
    Roberto Simões
    » CINEROAD - A Estrada do Cinema «

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  2. Ótima animação! Ótima experiência.
    Abraço.

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  3. Gosto do filme. O que me incomoda nele é a artificialidade deste método desenvolvido por Robert Zemeckis em seus filmes de animação. Os personagens demonstram emoção zero...

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  4. Rapaz, a cada ano que passa o Natal fica mais chato para mim... filmes como esse também me fazem lembrar da época em que eu era criança e que esperar o velho barbudo era algo fantástico.

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  5. Adoro, filme super sensível e uma animação de qualidade...

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  6. acho o filme um pequeno clássico.
    http://cinespaco.blogspot.com/

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