terça-feira, 9 de março de 2010

Cinema: "Preciosa", de Lee Daniels


Até que ponto pode um ser humano aguentar tanta dor e tanta falta de esperança? Esse é o filão seguido pelo diretor Lee Daniels em seu filme Preciosa, vencedor de 2 Oscars na festa do último domingo (07/02). Já vi muito sofrimento nessa vida, mas nada chega nem perto do drama vivido por Clarice "Precious" Jones. Estuprada pelo pai - de quem fica grávida 2 vezes -, espancada exaustivamente pela mãe (excepcional interpretação de M'onique), portadora do vírus HIV, sem futuro, formação educacional quase nula, enfim, praticamente uma nulidade como ser humano.

E, ainda assim, disposta a ir até o fim, custe o que custar.

Preciosa é um filme duro, ácido, sem meias verdades, avesso a moralistas e platéias demagogas que gostam de se emocionar lendo livros de auto-ajuda e assistindo comédias românticas açucaradas com os galãs e divas hollywoodianos. É a típica exaltação do homem como lobo do homem, porém sob um viés black people.

Ao final da sessão, quando começam os créditos e o diretor assinala "Para todas as Preciosas, onde quer que elas existam", o que se vê é um testemunho pungente de uma realidade atroz: um ensaio sobre a exclusão massacrante que assola esse mundo globalizado em que vivemos.

Um filme difícil, contudo imprescindível, para uma geração nova que já nasce achando que tudo é uma grande festa, e que todos podem ser artistas a qualquer preço.

Um comentário:

  1. Taí um filme bem necessário pra todos. Só achei que não recebeu muita atenção pelo público, deveria ser mais visto já que chega a ser um retrato da juventude atual, querendo ou não há algo de preciosa em qualquer jovem.
    Abraços, ótimo texto (:

    ResponderExcluir