sexta-feira, 16 de julho de 2010

Poesia: "O amor é um cão dos diabos", de Charles Bukowski



Nas últimas semanas eu tenho pensado muito em poesia. Talvez pelo fato de ao longo da minha adolescência eu ter relegado a construção poética a segundo plano (sempre me considerei um homem de narrativas e peças teatrais, onde o diálogo move a maior parte das intenções dos personagens). Provavelmente por conta disso, hoje tente compensar essa lacuna em minha formação buscando autores diferenciados, que fujam da mesmice caótica em que estamos atolados até o pescoço nessa última década.


O primeiro com quem tive um contato mais íntimo dessa maneira foi Charles Bukowski, "o velho louco e safado" da poesia beat. Existe algo em Bukowski que me assusta. E essa é exatamente a melhor parte do seu trabalho: assustar, provocar, mesmo que seja com fatos corriqueiros, simples, da prostituta que faz ponto na esquina da sua rua e que desperta todo o seu tesão até o homem de família que descobre que sua mulher está dormindo com o seu melhor amigo. Nas mãos do poeta essas rotinas ganham força e aumentam de tensão num nível quase insuportável, nos transformando em confidentes de suas obsessões e loucuras.


Em O amor é um cão dos diabos, coletânea que reúne poemas escritos pelo autor entre 1974 e 1977, ele se supera apresentando experiências autobiográficas desgastantes, melancólicas, porém profundas (como é bem o seu estilo de escrita). Para bukowski o amor deve ser regado à base de muita bebida e drogas e não pode obedecer nenhuma regra, pois senão ele torna-se impuro, detestável, não condizente com a imagem que as pessoas amorosas passam à primeira vista (veja bem: trata-se de uma visão de mundo pessoal do autor, não refletindo uma opinião geral da sociedade ou deste humilde blogueiro).


A obra é perfeita para quem busca redenções ou, no mínimo, respostas para tentar entender as frustrações de seus prórpios relacionamentos. Eu poderia aqui dizer, sem com isso passar por exagero, que O amor é um cão dos diabos passaria como perfeito oposto ao amor idealizado de Romeu e Julieta, lendários personagens do dramaturgo William Shakespeare. Aqui amar envolve comprometimento total, até morte se necessário, enquanto lá esse amor muitas vezes pode ser uma pequena fagulha que se extingue ou meramente amor próprio, sem nenhum vínculo com o próximo.


Recomendável para mentes insanas e inquietas, que acreditam que tudo pode sofrer uma transformação a qualquer momento.

4 comentários:

  1. Qual desses três filmes você considera mais "Bukoswskiano"? BARFLY, FACTOTUM ou CRÔNICA DE UM AMOR LOUCO?

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  2. Roberto, recebi sua mensagem. Envie um e-mail para: vaeveja arroba gmail com

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  3. Caramba, eu não conheço a parte poeta do Bukowksi. Eu li o livro "MISTO QUENTE" e foi uma experiência maravilhosa. Achei uma certa semelhança com O Apanhador no Campo de Centeio.

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  4. Rapaz, curiosamente vi esses dias esse livro na internet e pensei seriamente em comprá-lo. Bukowski é meu autor preferido por todas essas qualidades que você citou. Ninguém fala de solidão como ele, é tão duro e ao mesmo tempo tão tocante, indo da crueza à poesia num instante. Isso me fez virar fã do cara logo quando li Misto-quente. De lá pra cá, tudo que estava ao meu alcance eu li do autor, apesar que me preferido continua sendo Misto-quente.
    Já li um livro de poesia do Buk, chama-se "Os 25 melhores poemas de Bukowski" e gostei bastante. Aliás, acho que só ele para me fazer gostar de poemas - tenho um sério problema com eles.
    Enfim, quero muito ler esse agora.

    []s!

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