sábado, 7 de agosto de 2010

Literatura: "Fora de Órbita", de Woody Allen




"Woody Allen é um intelectual estranho", foi a primeira impressão que tive após assistir pela primeira vez um longametragem de sua autoria (tratava-se de uma velha fita VHS do filme A Rosa Púrpura do Cairo, produção com a qual logo me identifiquei por conta do fanatismo da personagem de Mia Farrow com a arte cinematográfica e, principalmente, com as salas de exibição). No entanto, nunca entendi o "estranho" nesse caso como algo ruim. Apenas como diferente. Tempos depois, passeando por sebos no centro da cidade - um de meus passeios de fim-de-semana favoritos -, deparei-me com dois de seus livros de narrativas curtas: Sem Plumas e Cuca Fundida. Arrematei-os rapidamente, pois sabia que outros cinéfilos visitavam aquele espaço, uma pequena loja na Rua da Carioca, e jamais me perdoaria se perdesse aquele achado promocional único. Veio então a adoração definitiva ao cineasta-produtor-escritor-ator.


Em Fora de Órbita, seu último livro lançado no país (uma reunião de textos lançados na imprensa norte-americana nos últimos anos), Allen está mais afiado e irônico do que nunca. E minha admiração pelo criador de Zelig, A Era do Rádio e Annie Hall só fez aumentar mais e mais depois de lê-lo. Ler Woody Allen é estar preparado para ser surpreendido a qualquer momento e pelas situações mais bizarras, constrangedoras e fora do comum (como bem sugere o título, aliás). Ele é capaz de pegar as pessoas e situações mais inverossímeis quando o assunto é retratá-las de maneira bem humorada é transformá-las em verdadeiras ribaltas circenses, cheias de gags e um timing cômico perfeito.


Não existe preocupação em seus textos (pelo menos à primeira vista) com valores literários irretocáveis e sim com o desfecho das tramas que cria, por mais absurdas que pareçam. Allen praticamente inventou aquilo que os críticos convencionaram chamar de "humor do resmungo", arrancando gargalhadas a partir de narrativas bem simples, quase ingênuas, onde o protagonista sempre é um indivíduo inusitado, ranzinza, reclamão. Seu grande mérito são as tiradas geniais, curtas em suas grandes maiorias (seus livros são praticamente stand-up comedies de papel, precisos, diretos, gloriosos). Basta um pensamento, uma frase solta, um diálogo rápido, desses que nós temos na rua, de passagem, quando cruzamos com alguém na rua que não vemos a décadas, e pronto! Está feito o cenário para Woody esbanjar seu talento.


Se você detesta a mesmice e procura há tempos por algo novo, diferente, esse é o livro. Se está em busca de um desafio proposto pelo autor, que irá lhe infringir as maiores charadas, exigindo de sua parte envolvimento total, esse também é o livro. Não se trata de humor barato. Muito pelo contrário. É, isso sim, um veículo agradabilíssimo que mostra mais uma vez (como se ele precisasse!) o talento de um dos maiores realizadores de cinema - e por que não dizer? de cultura - dos últimos tempos.




6 comentários:

  1. Olá pseudo-autor,

    Sou leitor do Jukebox e sou cinéfilo de carteirinha. Eu estou mandando esse email porque estou trabalhando numa empresa que desenvolveu um portal sobre cinema - o Cinema Total (www.cinematotal.com). Um dos atrativos do site é que você cria uma página dentro do site, podendo escrever textos de blog e críticas de filmes. Então, gostaria de sugerir que você também passasse a publicar seus textos no Cinema Total - assim você também atinge o público que acessa o Cinema Total e não conhece o Jukebox.

    Se você gostar do site, também peço que coloque um link para ele no Jukebox.

    Se você quiser, me mande um email quando criar sua conta que eu verifico se está tudo ok.

    Um abraço,

    Marcos
    www.cinematotal.com

    ResponderExcluir
  2. Woody Allen, pra mim também é um ser bem estranho, seus filmes são tão ... tão ... algumas vezes tão vazios outras cheios de simbolismo, que fica dificil acabar me identificando com alguns de seus filmes, já vi alguns livros de sua autoria, qualquer dia desses vou comprar um.

    ResponderExcluir
  3. Nunca li nenhum livro do Woody Allen, mas imagino que eles sejam muito legais.

    ResponderExcluir
  4. Olha só! Parece ser irresistível. Como sempre, fantásticas indicações aqui em seu blog.

    ResponderExcluir
  5. Uma amiga me chegou com esse livro semana passada e me fez passar vontade, estávamos na sala de aula e só deu para eu ler um dos contos. =/

    ela vai ler, depois vai me emprestar.


    Do Allen, só li "Cuca Fundida", que achei excelente! Aquele da morte é sensacional rs.


    abs!

    ResponderExcluir
  6. Adoro os filmes de Allen e há tempos procuro uma indicação de livros dele. Nunca os li meio que por não saber por onde começar. Tomara que "Fora de órbita" seja um bom ponto de partida!

    Ah, e parabéns, seu "Jukebox" possui uma seleção excelente.

    ResponderExcluir