sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Memória: Rock in Rio



"Foi o primeiro registro real de que existia realmente democracia no país", disse um vizinho meu, na época, no dia seguinte a abertura da primeira edição do Festival (eu morava em Olaria, zona da leopoldina, nessa tempo, e tinha apenas nove anos quando tudo começou). Passadas as Diretas Já o povo desejava, carecia, de um espaço que pudesse chamar de só seu. E esse lugar foi a Cidade do Rock. 11 de janeiro de 1985 foi a data de largada. Um sonho articulado pelo publicitário Roberto Medina que, ao contrário de muitos empresários, acreditava no potencial brasileiro para realizar grandes eventos. Até mesmo o governador em exercício na época, Leonel Brizola, desdenhou do projeto (tanto que mandou demolir - num ato supremo de barbárie - toda a construção ao final do festa). Porém, nem mesmo seu ato ditatorial conseguiu destruir a mística criada pelo Rock in Rio nesses 25 anos de pura euforia (às portas de uma nova edição a ser realizada em setembro do ano que vem). um mega evento internacional que conquistou até mesmo portugueses e espanhóis.

Um espetáculo que envolveu personagens antológicos (Guns n' Roses, Santana e Djavan cantando lado a lado em Oceano, Nina Hagen, AC/DC, Gilberto Gil, Baby Consuelo grávida, Nsync, Lisa Stansfield, George Michael de corte de cabelo novo, feito no país, Joe Cocker, Oasis, Titãs, Joss Stone, Shakira, Paul McCartney, Billy Idol...), cenas imortalizadas pelo tempo, proferidas por vozes inesquecíveis (Freddie Mercury, líder da banda Queen, com sua garganta poderosa, entoando - como quem canta um hino - Love of my life; James Taylor, acompanhado pelo coro de milhares de vozes tupiniquins e estrangeiras ao som de You got a friend), irreverência (Cássia Eller mostrando os seios; Flea, guitarrista do Red Hot Chilli Peppers, tocando completamente nu), fúria (como deixar de fora os alucinados e mais do que fiéis fãs do grupo Iron Maiden, por si só merecedores de um capítulo à parte nessa história, pelo fato da banda em si já ter se tornado sinônimo de Rock in Rio?) e muita badalação.

Contudo, nem só de democracia viveu o festival. Não esqueçamos de Lobão sendo achincalhado pela plateia na segunda edição  por culpa dos próprios organizadores que o puseram no mesmo dia das bandas de Heavy Metal. Erro imperdoável que seria repetido na edição seguinte, dez anos depois, com o cantor de axé Carlinhos Brown, agredido com garrafas de plástico durante sua apresentação. Aliás, a última edição (de 2001) teve boicote das bandas nacionais (dentre elas, Skank, Raimundos, Jota Quest, e outras) que cancelaram sua participação pouco mais de um mês antes do evento e, claro (como não mencionar esse fato?) as vergonhosas participações de Aaron Carter, que dublou suas músicas no palco em frente a um público incrédulo por tamanha coragem do astro mirim, e a diva pop Britney Spears, cuja polêmica envolvendo um possível playback é assunto entre os fãs mais exaltados até hoje. E para finalizar em grande estilo - antes que digam que esses contratempos só acontecem por aqui! - termino com a musa tresloucada Amy Winehouse, afônica, e mal se aguentando de pé no palco, durante a edição lisboense, também foi uma dessas (trágicas) cenas inesquecíveis que ajudam a alimentar ainda mais o histórico de surrealidade desse espetáculo musical.

Inconsequências e estrelismos à parte, Rock in Rio sempre foi um lugar perfeito para exemplificar a expressão "tudo pode acontecer". Uma pena que a festa não aconteça com mais frequência! (algo que os organizadores, em parceria com a Prefeitura, estão tentando mudar). Seja na Cidade do Rock, em Jacarepaguá, seja no Maracanã (que foi palco da segunda edição, em 1991), em solo brasileiro, português, espanhol, cantado, dublado, gritado, com coro, nudez ou empáfia, é a maior festa musical do pais, comparado ao maiores eventos da terra, como Woodstock, Glastonboury, os festivais de Montreaux e Isle of Wight. Isso ninguém pode negar. Em nenhum outro ponto do território nacional você encontrará tantas tribos distintas, tantos povos reunidos, cantando em uma só voz (mesmo que à primeria vista pareça impossível), pois é mais do que certo que ao redor, no mesmo espaço quadrado, você esbarre com um uruguaio, um argetino, um russo, um baiano, um gaúcho, um mineiro, um tcheco e um guatemalteco num curto espaço de tempo. Quer festa mais globalizada do que essa?

 


3 comentários:

  1. Rock in Rio de fato é um marco para os amantes do mundo da música no Brasil. Você listou vários acontecimentos mais do que marcantes dos festivais... Pena que não fui em nenhum. :(

    Agora, convenhamos... que burrice colocar o coitado do Carlinhos Brown no dia do metal, hein?

    hehehe

    abraços.

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  2. Belo texto, mas você poderia ter colocado uns vídeos destes momentos marcantes né?

    E música de qualidade é o que não falta não é? Será que as bandas mais novas conseguiriam fazer shows a altura de bandas tão marcantes como Queen?? ANo que vem, se tudo der certo, teremos esta resposta!

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