sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Cinema: "Aconteceu em Woodstock", de Ang Lee



Eu gosto de imaginar essa coisa da máquina do tempo - estou fazendo esse comentário por conta de um bate-papo que rolou na faculdade essa semana sobre o tema "o que eu faria de diferente se pudesse voltar no tempo?" - e da possibilidade de que qualquer ser humano possa avançar ou regressar a qualquer época (como o Marty McFly em De Volta para futuro). imagine o mundo de possibilidades: poder assistir os Beatles de perto, em meio a todos aqueles pontapés, sopapos e cotoveladas múltiplas, ver a final da Copa do Mundo de 1970 em que a melhor seleção de todos os tempos jantou a Itália de forma incontestável, entender da plateia o que significavam aqueles festivais da canção que aconteciam na Record, ter visto o Cometa Halley (se é que ele realmente deu o ar da graça em 1910, como contam as gerações mais idosas!). E, acima de tudo, como fã mais do que lunático do bom e velho rock n' roll que sou e sempre serei, ir à Woodstock. O que foi aquilo? Que mundo era aquele que conseguiu transformar míseros três dias de um longínquo agosto de 1969 numa hecatombe de música, sexo, drogas e muita alucinação? Quem foi o real responsável por tudo aquilo que as imagens daquele célebre documentário produzido pelo cineasta Martin Scorsese não cansam de relembrar para os admiradores mais nostálgicos?

Seu nome: Eliot Tachberg (atuação impressionante de Demetri Martin). Ele não tinha uma vida alucinada, muito menos cheia de emoções constantes. Sua existência - se é que dá pra chamar isso de existência! - resumia-se a ajudar os pais na administração de um pequeno hotel localizado na cidade de Bethel, uma hora e meia de distância de Nova York, definitivamente um lugar esquecido por Deus e pelas pessoas ditas normais. Nada de garotas maravilhosas em minúsculos biquínis nem megaeventos ou empreendimentos gigantescos. Nada. Aquela típica vidinha à la Carlos Drummond de Andrade em Confissões de um Itabirano! Mas não por muito tempo. E não para Eliot. Ele tinha um sonho e via potencial em sua cidade para realizá-lo (bem como os loucos que investiram em sua ideia tresloucada): fazer um festival de música. O que Eliot ainda não sabia era que a sua pequena ideia iria transformar a cidade no palco de um dos maiores eventos da história musical em todo o mundo.

Com a confirmação do evento a cidade, até então pacata, vira um inferno: congestionamentos, tumulto, gente de tudo quanto é lugar do planeta terra vem desembocar ali, fazendo com que a infra-estrutura existente seja impraticável para dar conta de um espetáculo daquela magnitude, inundado por um multidão de hippies, tatuados e outros fanáticos, que muito cedo (alguns até poderão dizer que se adiantaram aos próprios organizadores da festa) perceberam que algo grande estava se formando ali, passo a passo. Ang Lee, diretor desse majestoso Aconteceu em Woodstock, faz de sua película um colírio para os olhos de todas aquelas pessoas que sempre quiseram saber como o maior festival de todos os tempos foi idealizado. Para aqueles que aguardam as apresentações, com as canções que já se tornaram lendárias entoadas pela multidão de afficionados, recomendo o You Tube ou outro portal de vídeos onde se pode encontrar esse material às toneladas. Aqui o que interessa, o que está em foco, é a história de como um sonho se transformou em realidade e mudou a vida de toda uma cidade e uma geração.

Contando com um elenco muito eficaz para aquilo que o projeto se propôs - que traz desde Liev Schrieber na pele de um travesti a Emile Hirsch numa atuação intensa nos poucos minutos em que aparece em cena (o que mostra porque ele é um dos atores jovens mais promissores do momento) -, Lee vai pontuando os desejos de cada um desses frequentadores, quase colaboradores de todo o processo, de cada um desses seres únicos que estavam ali, no lugar certo, na hora certa, quando tudo simplesmente aconteceu e o mundo mudou por 72 horas. À parte o fracasso comercial do evento, o que se viu foi um fenômeno único digno de um capítulo especial nas mais importantes enciclopédias culturais de todos os tempos. E essa classificação nenhum intelectual ou político será capaz de lhe tirar.

Conheci pessoas, quando morei na Zona da Leopoldina, que estiveram lá, naquele agosto inesquecível e repleto de paixão e encantamento. Muitos deles foram meus professores de ensino fundamental. A maioria tinha uma atitude em sala de aula muito peculiar: aquele olhar agressivo, direto, mordaz, como quem diz aos alunos "Não aceitem simplesmente de graça tudo que lhe derem nessa vida. Vão conquistar!". Chamo isso de efieto Woodstock. Infelizmente não faço parte dessa geração (daí o desejo irrefutável de que algum cientista invente logo a máquina do tempo o quanto antes), mas serei um eterno devedor do Sr. Ang Lee por ter presenteado a minha e as futuras gerações com esse presente cinematográfico, esse exemplar único em sua essência e execução. E digo mais: merecedor de constar de qualquer videoteca particular que se preze. 

7 comentários:

  1. É um grande filme, um dos 10 melhores do ano passado, Ang Lee não perde sua sensibilidade, até porque nesse filme, ele precisou muito. Um pequena obra deliciosa.

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  2. Cara, ainda não vi este filme, e olha que faz tempo que venho lendo sobre e vendo o trailer, tenho muita curiosidade, mesmo não sabendo direito o que aconteceu em Woodstock. Muito bacana o texto, apenas aguçou ainda mais a minha vontade em conferir o filme!

    Abs.
    cigarrosefilmes.blogspot.com

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  3. Gostei da forma como o filme apresenta Woodstock. A gente vê a realização do festival sob um prisma diferente e acho que esse acaba sendo o diferencial do filme.

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  4. Meu sonho: "poder assistir os Beatles de perto, em meio a todos aqueles pontapés, sopapos e cotoveladas múltiplas"! Eu gostei bastante deste filme. Eu achei o livro excelente também - escrita deliciosa.

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  5. Ainda não vi esse, por acaso. A conferir em breve, espero.

    Cumps.
    Roberto Simões
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  6. Olá, encontrei seu recado no blog da OCAS. Se quiser mais informações para inserir no seu blog, acesse o link: http://blogdaocas.blogspot.com/2009/10/ocas-organizacao-civil-de-acao-social-e.html

    Se ainda necessitar de mais informações, entre em contato via e-mail: yara_veronica@yahoo.com.br

    Obrigada pelo interesse pela OCAS.

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  7. Não me interesso tanto por esse filme, mas quero muito ver por causa do elogiado desempenho da Imelda Staunton, uma atriz que sou fã!

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