segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Memória: Atari



Não faz muito tempo postei aqui um comentário a respeito da guerra existente hoje em dia entre as fabricantes de videogame Sega e Nintendo. Pensar no mercado de games atualmente é muito mais do que o mero entretenimento que existia em minha época de garoto, quando a única coisa que as crianças desejavam de fato era divertir-se, sem se comprometer com nada além do prazer. Hoje, não! Tudo é competição, é a lei do "que vença o melhor" e muitas vezes esse melhor vence a qualquer custo, recorrendo aos maiores delitos e desvios de caráter, inimagináveis na cabeça de quem vê naquilo apenas um jogo. Um bom exemplo dessa fúria e desse desespero em que se transformou esse mundo sórdido dos jogos eletrônicos (e, mais especificamente, no exemplo proposto, vale salientar os tais jogos em rede, a febre atual) é o filme Gamer, da dupla Mark Neveldine e Brian Taylor, que mostrava visceralmente o quão enlouquecedor pode ser esse universo onde os únicos jogadores que realmente importam são os vencedores. A eles, toda a glória, aos demais. o limbo do esquecimento.

Ao final de sua projeção e após perceber que alguns espectadores não aguentaram a projeção até o fim e saíram proferindo palavrões em alto e bom som, senti a nostalgia de minha época bater forte no peito - lembranças saudosas do tempo em que ia pra casa de minha avó e ficava junto com meus primos, cada um com seu joystick na frente da televisão, disputando quem dava mais tiros em Galaga - e agradeci, em silêncio, por não fazer parte dessa nova geração, que confunde com muita facilidade o que é real com o que é ficção. E eis que nesse momento entra em cena o personagem principal do nosso post de hoje: o Atari.

O Atari foi uma das maiores revoluções - senão a maior - da minha geração (e quem se encontra hoje na faixa dos 30 anos sabe bem do que estou falando!). E qual era o segredo do seu sucesso? Imagens em alta definição? Não. Gráficos sensacionais onde a tela de LCD ou plasma exultava ao exibir o jogo? Tá maluco! TV era com tubo catódico nesse tempo e olhe lá. Ué... Então qual era o diferencial desse aparelho fabuloso? Simples: ele conseguia oferecer ao seu público ideias práticas, de fácil execução e ao gosto do cliente (que não possuía 10% do nível de exigência dessa garotada de hoje). O segredo não era o trabalho perfeccionista e extraordinário dos desenvolvedores dos cartuchos - CD, nesse tempo, era apenas sonho - e sim a sua funcionalidade para o jogador. Tinha que ser divertido e não essa viagem psicodélica e transcedental dos dias atuais, com trilhas sonoras feitas especialmente para o jogo e grandes astros de Hollywood dublando as vozes dos personagens. "Hoje jogar é uma experiência", ouvi não tem muito tempo um desses especialistas da contemporaneidade falando num programa de variedades no canal Multishow, e não mais um mero passatempo.

No lugar dos CDs de hoje, as fitas. Tinha a desvantagem, é bem verdade, de serem mais caros e não haver essa pirataria atroz de agora, mas em compensação raras eram as vezes em que o console não lia o jogo (ou seja, não ficávamos aguardando aquele loading interminável). E se você tinha família grande ou uma galera unida na escola, todo mundo se reunia e levava seus cartuchos na bolsa, marcando encontro na casa de alguém. Sempre numa casa diferente a cada semana. E as opções? Se hoje você se assombra quando vê meninos de 12, 13 anos de idade jogando games como Counter Strike e Modern Walfare, na minha época o fino da bossa era Pac-Man. Isso mesmo! O bom e velho amigo come-come. Porém, existiam além desse clássico (que já fez o Google tomar um prejuízo de milhões de dólares só por ter prestado homenagem a esse gracioso passatempo na tela de abertura de seu site de buscas) opções as mais variadas para os públicos mais ecléticos.

Dentre os que eu mais curtia, destaco Seaquest (o do submarino matador de piranhas), que confesso já ter visto na internet em outras versões remodeladas, mas longe do brilhantismo do original; Pitfall (verdadeiro safári em que eu e minha irmã ficávamos quebrando a cabeça para ultrapassar pontes quebradas e areias movediças); River Raid (em que eu era piloto de um jetinho muito do mal feito, mas que dava tiro pra tudo quanto é lado. Nesse eu era fera!); Enduro (provavelmente um dos primeiros jogos - talvez o pioneiro - de corridas de automobilismo); Frostbite (com o esquimozinho simpático pulando nas tiras de gelo para montar o seu iglu e escapar do urso polar) até os antológicos Freeway (do qual guardo memória das batalhas que eu tinha com um vizinho para saber quem atravessa mais vezes a rua com sua galinha) e Decathlon (jogo olímpico que era uma verdadeira mina de ouro para os fabricantes de controle, que quebravam com relativa facilidade quando se disputava a prova dos 100m rasos ou o salto em distância e o jogador precisava acelerar o boneco. Se fosse aquele modelo quadrado com o bastão, então, era um agonia!). E por falar em joysticks havia sempre os pedidos de natal para que nossos pais comprassem os modelos da Dynacom, que pareciam manches de avião e tinham uma durabilidade muito maior.

Isso fora Atlantis, Hero, Popeye, Moon Patrol, Frogger, o terrível Sex Mania (que os pais nunca compravam pra gente - não importa quantas vezes pedíssemos! - porque o achavam pornográfico demais), Venture, aquele do carrinho de fórmula 1 que soltava fumaça nos carros vermelhos e tantos outros... Se olharmos pela ótica de hoje, esse país globalizado onde tudo tem de mudar de marca ou estilo o tempo todo e as coisas perdem a importância e a funcionalidade num espaço muito curto de tempo, parecem bobos esses joguinhos despretensiosos. Mas certamente quem viveu o período pode defender - tanto quanto eu - esse console que se não tinha, por um lado, o compromisso de ser substituído a qualquer instante por uma tecnologia superior (a velha mania da defasagem que o ser humano dos novos tempos vive propondo a todo o momento com novas artimanhas e estratégias), por outro certamente entrou para o panteão das ideias mais originais da face da terra e dificilmente será esquecido por gerações que admiram coisas duráveis e não o artificialismo vazio dessa época em que absurdamente vivemos.


Para matar saudades, alguns desses jogos em versões online:
   

8 comentários:

  1. Ah, Atari!!!! Joguei tanto quando era criança! ADORAVA! Minha família se reunia todos os sábados para jogar. :) Saudades desse tempo!!!!

    ResponderExcluir
  2. Lembrei da minha infância de um jeito agora...
    Muito bom.

    E se a fita não funcionasse era só dar uma assopradinha que resolvia! ahaha

    abraços.

    ResponderExcluir
  3. Me amarrava no meu atari. hehehhhe
    sobre o filme "Hedwig" eu baixei nesse site gayload.blogspot.com entra lá antes que expire. grande abraço.

    ResponderExcluir
  4. Minha mãe é que não gostava muito da onda do Atari, hehe, naquela época diziam que estragava a televisão. Acabei ganhando uma TV só pra game.

    ResponderExcluir
  5. Atari, tem sabor de infância. Bons tempos!

    ResponderExcluir
  6. Porra, é isso mesmo! Até minha mãe jogava o "come-come", como ela dizia. Virávamos noites jogando. Cresci assim. Que legal a lembrança.

    ResponderExcluir
  7. Bah, eu tive um Atari, o 2600... Bons tempos de pac-man.
    A combinação de Atari com TV preto e branco (a minha era, 16 polegadas) enchia os olhos naquele tempo igual a combinação dum PS3/XBox com tvs LCD de agora.

    Abraços

    http://topangablog.blogspot.com/

    ResponderExcluir