terça-feira, 14 de setembro de 2010

Musas: Sharon Stone



É com muito pesar e sempre atraindo o descontentamento de meus colegas de cineclube que olho atualmente para as telas de TV e vejo algumas das chamadas símbolos sexuais da contemporaneidade. O que pode haver de realmente interessante em máscaras de botox, corpos siliconados em demasia e outras intervenções cirúrgicas que eu tenho até medo de explicar para os leitores desse humilde blog? É, meus amigos e confidentes virtuais, beleza está virando motivo de discórdia (ou, no mínimo, de discussão que pode render meses e meses de debate sem chegar a lugar nenhum). E não pensem vocês que as musas de cinema estão livres desse universo plastic surgeon! Não, senhor. Há exemplares exóticos em grande número desfilando pelas ruas de Hollywood e adjacências. Nem todo mundo (que bom seria se fosse!) pode ser uma Charlize Theron...

Mas eu não ia falar de musas? Claro! E vou. O caso é que a musa de hoje me remete a um tempo em que seios gigantescos, coxas musculosas e lábios carnudos em excesso eram coisa, no máximo, de heroína underground de histórias em quadrinhos. Não era isso que se procurava na tela grande. Vide o sucesso causado pela atriz Sharon Stone quando despontou para o estrelato. E olhe que se tratava meramente de uma estudante universitária de desempenho acima da média, mas com um comportamento anti-social bastante presente em seu caráter. A primeira vez que a vi atuando - algo em torno da época em que ela devia já ter sido eleita Miss Pensilvânia - foi em duas produções de aventura ao lado do ator Richard Chamberlain, que interpretava o heróico personagem dos livros de H. Rider Haggard Alan Quatermain, nos filmes As Minas do Rei Salomão e Alan Quatermain e a Cidade de Ouro Perdida (ambas produções de Menahem Golan e Yoram Globus). Sharon, linda, esbelta, cabelos loiros ainda encaracolados, já mostrava um pouco do sex appeal que seria sua marca registrada nos anos seguintes.

Entretanto, sua estreia realmente se deu quando Woody Allen a chamou para ingressar o elenco de Memórias (em 1980), quando ainda era uma contratada da agência Ford Models. O estrelato, então, só começaria a bater em sua porta com Instinto Selvagem (1992), do diretor Paul Verhoeven, com quem já trabalhara dois anos antes no longametragem de ficção O Vingador do Futuro, baseado em conto do escritor Phillip K. Dick. Na pele de Catherine Tramell - até hoje sua personagem de maior destaque ao longo de toda a carreira -, marcou uma geração de cinéfilos, principalmente o público masculino, pela cruzada de pernas mais famosa da história do cinema, e por suas cenas calientes com o ator Michael Douglas que, anos mais tarde, quando casou com a atriz Catherine Zeta-Jones, assinou um contrato pré-nupcial por conta de seu suposto "vício em sexo" (uma história muito mal esclarecida até hoje). O fascínio pela personagem femme fatale de Stone rendeu a atriz até mesmo um convite para posar nua pela Playboy.

Passada a fase da novelista policial ninfomaníaca, continou marcando presença nas telas com personagens sensuais e poderosas, seja na pele da inocente, mas sedutora Carly Norris, espionando a intimidade alheia em Invasão de Privacidade, na vingativa May Munro de O Especialista, capaz de tudo para destruir o homem que matou seus pais (e aqui um aparte mais que necessário: como esquecer a cena do chuveiro em que contracena com o ator Sylvester Stallone?) e a pistoleira Ellen que retorna à sua cidade natal para acertar contas com o passado num torneio de vida ou morte em Rápida e Mortal, inusitado projeto de Sam Raimi (então famoso por seus filmes de terror de baixo orçamento). Até a chegada do fantástico ano de 1995 e o convite de Martin Scorsese para interpretar a inebriante e letal Ginger McKenna, o elo de paixão e ódio dos personagens mafiosos vividos por Robert de Niro e Joe Pesci em Cassino. Uma interpretação poderosa que lhe rendeu o Globo de Ouro de Melhor Atriz e uma posterior indicação ao Oscar.

Daí em diante sua carreira sofre uma queda considerável, apesar de sua beleza continuar em evidência. Porém, mesmo seu carisma não consegue alavancar produções apenas medianas - mesmo sendo algumas delas dirigidas por nomes de peso da indústria -, tais como Diabolique, de Jeremiah Chechik, dividindo a atenção com a também exuberante Isabelle Adjani; Esfera, de Barry Levinson, em que não consegue convencer na pele de uma cientista, mesmo estando acompanhada da dupla Dustin Hoffman e Samuel L. Jackson; Garganta do Diabo, de Mike Figgis, Onde o único personagem consistente parece ser a casa onde os personagens moram; Mulher-Gato, de Pitof, filme em que o diretor conseguiu destruir a reputação da personagem dos quadrinhos Selina Kyle (vivida por Hale Berry), até retornar 14 anos depois a personagem que dera o pontapé a toda a sua ascensão profissional (contudo, Instinto Selvagem 2, de Michael Caton-Jones, se mostra um thriller vazio, sem brilho algum e com psicologia de mais e sexo de menos).

Nesse ínterim uma notícia externa aos sets de filmagem suscitou muito mais comentários do que seu próprio trabalho frente às câmeras: a notícia de que a atriz tinha um coágulo no cérebro, o que provocou um sumiço repentino da musa das telas. Nos últimos tempos, entre pequenas participações, papeis de pouco destaque e produções em que a própria atriz bancou do bolso, as que tiveram algum destaque - mesmo que momentâneo! - digno de nota em jornais e publicações voltadas para a sétima arte foram Bobby, belíssima produção do ator/diretor Emilio Estevez em que narra o dia do assassinato do então candidato a presidência da república nos EUA Robert Kennedy (e aqui uma observação importante: muito se comentou, na época, sobre a cena curta em que contracena com Demi Moore, outra que andava sumida dos holofotes desde sua desastrosa participação no filme Striptease, que quase deu fim a sua carreira) e o drama Alpha Dog, de Nick Cassavetes, onde seu maior destaque atuando foi numa das últimas cenas em que contracena exibindo uma silhueta gorda e flácida, construída para mostrar a derrota e a amargura de uma mãe que nunca superou a perda do filho, morto dias após seu sequestro.

Desilusões e contratempos à parte, Sharon Stone (pelo menos em minha memória) ficará eternamente gravada como beleza natural e verdadeira, diferente de certas aberrações tratadas como musas nos dias de hoje. Numa era onde beleza é sinônimo de armaduras marombadas feitas em academia, lembro com saudades do tempo em que essa magnífica blonde star exibia sua exuberância e charme inigualáveis em personagens pra lá de sensuais. Onde foram parar esses tempos mágicos?         


6 comentários:

  1. Quando comentam algo sobre Sharon Stone, logo me lembro de O Vingador do Futuro, era um filme que assistia muito e gosdtava da personagem dfa atriz. Gostava tanto que não conseguia aceitar o fato da personagem ser uma vilã. Acho que esse foi o único filme que me marcou, porque não assisti muito, até mesmo Instindo selvagem ainda não assisti.

    Agradeço pelo comentário lá no meu blog, gosto bastante de Fahrenheit 451, e ainda vou ler o livro, ainda mais agora que você comentou ter algumas coisas diferentes.

    Ah, acabei te achando no filmow e te adicionei.. rs

    Abraço.

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  2. Sharon Stone, nunca foi minha atriz favorita, afinal não vi muitos filmes com a atriz, mas sua beleza é incontestável, algo surreal! hehehe
    Não sabia que a atriz tinha (ou tem) um coágulo no cérebro. Espero que ela volte a fazer bons filmes, espero que ela volte ao estrelato. Com isso, podemos ver, que uma coisa é certa: o "mundo da fama" é cruel!

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  3. Olha, ela realmente foi uma das grandes musas sexualizadas do século XX no cinema... com papéis inesquecíveis, como em O Especialista ou no clássico Instinto Selvagem, ela conseguia ficar sexy até no ótimo Rápida e Mortal, do Sam Raimi. Há uma cena em que ela acorda apenas de camisa e botas, empunhando seu revólver enquanto mostra um de seus encantadores seios sem querer... maravilhosa!

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  4. Eu acho que o momento da Sharon Stone já passou. Ela foi uma musa para muitos de vocês, rapazes, mas, hoje, a imagem dela é totalmente "decadente". E ela não ajuda, uma vez que suas escolhas recentes de filmes não têm sido felizes...

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  5. Que recap completa. Quando Sharon era toda-toda, eu não tinha relação com o cinema. E lendo sobre ela aí, percebo que vi pouquíssimas coisas que ela fez, mesmo aquelas que a tornaram a sex-symbol de uma geração como a sua. Ainda bem que há DVDs para tirar esse atraso.

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  6. É mesmo uma musa, mesmo tendo feito tantas escolhas erradas. Acho que Stone já teve papéis maravilhosos, e não me refiro só ao símbolo que representa em "Instinto Selvagem".

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