domingo, 5 de setembro de 2010

Quadrinhos: "Heavy Metal", de Leonard Mogel



No meu tempo de locatário de fitas VHS (fase essa em que eu era muito mais fanático por aluguel de filmes do que hoje, até porque encontrar as produções cinematográficas ditas clássicas ou cults era muito mais complicado do que hoje em dia) qualquer animação que não pertencesse ao catálogo do grupo Walt Disney - que eu considerava por demais "conservador" - precisava de muito pouco para atrair minha atenção. Foi assim com Akira, de Katsushiro Otomo, obra-prima asiática muito melhor em zilhões de aspectos do que a maioria das megaproduções que a casa do Mickey produzia no período e com Porco Rosso, uma aventura latinoamericana engraçadíssima que trazia um suíno aviador como protagonista em meio a muitos percalços envolvendo espionagem. E, para ter uma ideia mais complexa dessa minha idolatria aos "concorrentes" da Disney, veja o que já escrevi sobre Hanna-Barbera aqui nesse blog. Quando encontrei Heavy Metal (a animação dirigida por Gerald Potterton em 1981) escondida, dando sopa entre as prateleiras da videolocadora que ficava a dois quarteirões da minha casa, então, enlouqueci. Era um mundo novo que se descortinava diante de meus olhos e eu nunca mais fui a mesma pessoa depois daquela experiência, pois logo a seguir veio a descoberta de que havia uma revista bimensal de mesmo nome com suas histórias mistas de ficção-científica e fantasia carregadas de erotismo e violência.

Nenhuma outra notícia, portanto, poderia ter me deixado mais frenético quanto ler em um artigo do site Omelete - http://www.omelete.com.br - o interesse de cineastas como David Fincher (que somente pelos filmes Seven - os crimes capitais e Clube da Luta já me ganhou como fã exclusivo no lançamento de seus futuros projetos), James Cameron (responsável pelo fenômeno global Avatar) e Zack Snyder (a mente brilhante por trás de 300 e Watchmen), entre outros, de realizar uma nova versão em Live Action da história em quadrinhos, considerada a maior expressão do movimento surrealista internacional contemporâneo, ficando cada um deles responsável por um episódio baseado em personagens da publicação. [Pausa para uma rápida euforia]. Os visitantes mais novos desse espaço blogosférico, logicamente intrigados, se perguntarão então: "Que raios foi (ou é, dependendo do tamanho de sua admiração algumas coisas nunca morrem) essa tal de Heavy Metal?".


Tudo começou quando Leonard Mogel deparou-se, em Paris, nos idos de 1974, com a publicação francesa Metal Hurlant e decidiu realizar sua versão americana da mesma, tamanho o fascínio que o universo científico-fantástico daquelas narrativas gráficas causou nele. Três anos depois, o que começou como simples traduções feitas a partir das histórias originais, transformou-se na incursão dos primeiros colaboradores de renome, como Jean Girard (conhecido internacionalmente como Moebius), Tanino Liberatore (criador do violento ciberpunk, atualmente em evidência de novo, Ranxerox) e Jean-Claude Forest (responsável por trazer à vida a sensual e eterna Barbarella, imortalizada no cinema pela belíssima atriz Jane Fonda, em produção do diretor Roger Vadim, seu marido na época). Em 1979, Heavy Metal começa a agregar temas de revistas notórias do período, como Amazing Stories (mais conhecida aqui no Brasil como a série sobrenatural de sucesso com episódios dirigidos por gente do quilate de Steven Spielberg e Joe Dante) e Fantastic, além de inserir em suas páginas aspectos da cultura popular americana, como rock n' roll, quadrinhos underground, animações experimentais, shows com raios laser, como os feitos pelo artista multimídia Jean-Michel Jarre, um pioneiro do gênero e contar, volta e meia, com entrevistas a personalidades da cultura mundial, como o cineastas Federico Fellini e Roger Corman e trechos de obras literárias consagradas (numa coluna conhecida como Dossier).


Famosa por sua versatilidade - a revista adaptou para os quadrinhos o poema épico Paraíso Perdido, de John Milton, que é aclamada até hoje como a melhor adaptação poética já feita na história -, já atraiu (e continua atraindo!) a fúria de muitos críticos, que pedem seu banimento das bancas por conta do excessivo (opinião deles) uso do nudismo e da violência gráfica na construção de suas histórias, muitas vezes prematuramente rotuladas de pornográficas. Contudo, nem mesmo os indignados detratotes conseguiram fazer com que a publicação perdesse o seu status de cult. Seu atual dono (ou será melhor dizer o último, tendo em vista que há bastante tempo não ouço notícias sobre esse universo?), Kevin Eastman, co-criador das Tartarugas Ninjas, continua tentando manter a essência do que a proposta do veículo pretende: inovar, mesmo que para isso tenha que conquistar alguns desafetos.


Devassidão, nudez, amargura, brutalidade, sexo, fúria, encantamento, tudo isso e muito mais, misturado num caldeirão de sentimentos os mais antagônicos, fizeram de Heavy Metal o que ela é: uma revista agressiva como são os melhores veículos e periódicos culturais que o mundo já produziu. Não se trata de uma publicação para todos os gostos, vou logo alertando!, já que o gênero incomodará aos olhos mais sensíveis e moralistas, porém se sentida e visualizada com o olhar crítico que merece, é entretenimento da melhor qualidade. E acreditem: precisará de poucos segundos (ou diálogos) para absorver sua total atenção. Logo é recomendável apenas para momentos de relax absoluto (leiam-se: férias, folgas, licenças etc).

3 comentários:

  1. Infelizmente nunca pude ler Heavy Metal, mas me recordo com uma dose cavalar de nostalgia do longa metragem em animação dos anos 80... a história do nerd que vira um conquistador fodão é muito foda!

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  2. Tens razão . A Charlize é uma grande atriz e ajuda a tornar qq filme no mínimo interessante !
    abraços .

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  3. Sou Fã de quadrinhos, mas não tive oportunidade de ler essa. Mas me interessei e vou dar uma procurada. Parabens pelo blog

    http://omundodoscinefilos.blogspot.com/

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