quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Música: "MTV ao vivo Bailão do Ruivão", de Nando Reis e Os Infernais.



Nenhum outro gênero musical, a meu ver, é alvo de tantas críticas surreais e divertidas, seja da parte da opinião pública, seja da parte da crítica especializada, quanto a música brega. Lembro de certo programa da Rede Globo apresentado pela humorista Regina Casé em que ela foi coroada durante um festival de música como Rainha do Brega (com muito orgulho e pompa!) e das reações de dois primos meus, totalmente avessos ao estilo, reclamando: "Isso não é música. É, no mínimo, uma piada e de mau gosto". O brega, no final das contas, é isso: um divisor de águas quando o assunto é gosto pessoal, um segregador de opiniões, e se levado a extrema interpretação motivo de discórdia e até de briga em bate-papo de botequim ou festa de família. Porém, gostem ou não dela, está por aí, incomodando, fazendo a sua parte, alegrando aquelas camadas da sociedade normalmente de pouca ou nenhuma instrução - o que não significa em momento algum que ricaços e intelectuais não a escutem - e, volta e meia, ganhando novas roupagens, versões e homenagens em grande estilo. A última delas veio do ex-titã Nando Reis em seu excelente MTV ao vivo Bailão do Ruivão.

Não é de hoje que eu percebo que o cantor Nando Reis é uma incógnita. Eu sempre o achei deslocado quando membro integrante da banda de rock Titãs e, recentemente, tive a confirmação desse seu diferencial por conta de uma entrevista dada pelo próprio músico para a revista Billboard, defendendo que sua música era simples, sim, fácil de compor, por vezes vista como prematura por parte dos especialistas do mercado fonográfico, mas que era exatamente disso que ele gostava, pois nunca quis ser rotulado como compositor de "canções que deixam mensagens ou legados posteriores", como aconteceu com seus contemporâneos Cazuza e Renato Russo. No Bailão do Ruivão ele expõe esse raciocínio à máxima potência, cantando sucessos antigos que hoje podem até ser considerados como música cafona ou descartável, mas que certamente já foram ouvidos e cultuados pelas mais diversas gerações em algum momento de suas vidas.

O repertório é ótimo e conta com pérolas que embalaram os romances, aventuras e alegrias de muita gente. Nando não inventa, não compromete o baile proposto e cai no suingue, muito bem acompanhado pelos Infernais (afiadíssimos!), conquistando de vez as graças do público e oferecendo entretenimento fácil e sem ambição de fazer tipo (algo que tem me enjoado - e muito! - na atual MPB). Entre as faixas melosas e nostálgicas vale destacar os eternos hits Agora só falta você, de Rita Lee, Whisky a go go, da banda Roupa Nova e Muito Estranho, do outrora pop oitentista Dalto. Nando não esquece do passado roqueiro e presenteia a plateia com uma nova versão de Bichos Escrotos, exalta Tim Maia - como deixar o síndico de fora de uma festa dessas? - nos acordes de Gostava tanto de você, vai ao auge da idolatria brega cantando ao lado da Banda Calypso em Chorando se foi, antiga lambada do grupo Kaoma, chama os forrozeiros para pista, presença típica nesse tipo de evento, com Severina xique xique e encerra em grande estilo trazendo à tona a criança escondida no coração dos espectadores com Lindo balão azul.  

Podem me vaiar porque postei sobre isso aqui no blog, podem me criticar por conta de meu lado brega, oculto por toneladas e toneladas de Blues e Rock n' roll administrados ao longo das últimas duas décadas, e agora exposto de forma tão pueril nesse texto debochado, mas a grande verdade é que MTV ao vivo Bailão do Ruivão é um presentaço para qualquer fã de boa música e que respeita a diversidade sonora que existe em nosso país. E cabe aqui um aparte importante: quando li o livro Eu não sou cachorro, não, do escritor Paulo César Araújo (o mesmo que disputa na justiça com o cantor Roberto Carlos pelos direitos de veiculação da biografia do Rei da Jovem Guarda), em algum momento senti nas palavras do autor o desejo de dizer ao público que o brega - ou cafona - incomodava a tanta gente pelo fato de expor o nosso lado mais criança e que, no fundo, temos medo disso, por conta da necessidade social de amadurecermos a qualquer custo. Com o Bailão percebi essa metáfora presente de novo e devo confessar: nunca foi tão bom se sentir criança (e alegre) mais uma vez.

Alguns hits do álbum:
  
Muito Estranho:

Lindo Balão Azul:

Chorando se Foi (com a banda Calypso):


5 comentários:

  1. Concordo em gênero, número e grau com suas afirmações. Tenho pra mim que música "brega" é aquela que diverte as pessoas, que faz delas algo menos intelectual e mais próximo de sua natureza mais dionísiaca.
    Adoro ouvir música brega - nos seus devidos momentos, que fique bem registrado - e estou muito a fim de comprar o cd do Nando Reis, que eu admiro profundamente como músico e artista. Ele tem uma autenticidade e uma inteligência que faz muita falta na MPB.

    Abração
    Clênio
    www.lennysmind.blogspot.com
    www.clenio-umfilmepordia.blogspot.com

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  2. Meu pai comprou esse DVD e, sinceramente, não gostei! Acho que o Nando tá começando a se levar a sério demais, querendo ser popular demais. Não combina com ele, isso...

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  3. Putz, adoro Nando Reis, mas essa realmente me soou meio estranha. Mas, sei lá, tem que ouvir pra ver o que que deu, né? Agora ele cantando 'Quem não conhece Severina Xique Xique que montou uma butique para a vida melhorar' seguido do Lindo Balão Azul, ha, isso é impagável.
    Abraços (:

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  4. Bom ou não, esse cd é muito divertido! Minha mãe vive escutando e eu entro no clima de diversão... =P

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  5. Devo discordar somente de uma coisa (ou duas, se contarmos melhor): Tim Maia e Rita Lee jamais serão bregas, ainda quando soam piegas em alguns "clássicos menores"... De resto, devo acrescentar ao seu bom texto que o brega "legítimo" teve (e tem) o seu valor: "ícones" como Sidney Magal, Waldick Soriano, Fernando Mendes, Adelino Moreira e Odair José foramdevidamente passadospor xcelentes e atuais releituras recentes e ocuparam seus merecidos lugares ao sol, inclusive com estudos, regravações e filmes a respeito de suas obras até então "marginais"! O que não se pode confundir é com trabalhos de cunho muito mais esvaziado de qualidades culturias, como Calypso ou Falcão (que é uma sátira do brega, estilo cearence de fazer humor!).

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