segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Música: "50", de Marvin Gaye



Não sei se já disse isso aqui no blog, mas sou um eterno admirador da black music e do soul e isso tem um motivo muito óbvio: a Motown. Como falar em poucos segundos de uma gravadora que é sinônimo de uma geração de talentos os mais variados? Só pra se ter uma ideia não teríamos hoje a menor noção de quem é Michael Jackson, Barry White, James Brown, The Supremes (e, principalmente, a figura lendária de Diana Ross), Dione Warwick, Stevie Wonder, entre tantos outros símbolos, não fosse o selo. E provavelmente eu teria parado de ouvir música em algum momento dos meus 18, 19 anos (não é exagero, não, meus caros leitores! É fato). Muito do que eu procuro atualmente em artistas como Joss Stone, Amy Winehouse, Jonny Lang e John Mayer, só pra iniciar uma lista que duraria bem mais do que esse post e o número de caracteres que eu tenho disponível para digitar acabaria, toda aquela bossa, aquele ritmo, é motivado - e muito! - pela minha época de  adolescente ouvindo junto com meus primos aqueles LPs (vou ter de explicar o que é isso ou os visitantes desse espaço sabe a que me refiro? É... Faz um bom tempo) da galera black com seus vozeirões e cabelos caprichados. [Faço aqui uma pausa para um momento nostálgico]

Dentre esses titãs da boa música um que chamou minha atenção em especial foi o cantor Marvin Gaye. Por sua elegência e melodia poderosas que arrebataram para sempre minha devoção com Sexual Healing, que ouvi pela primeira vez num trailer de cinema de uma produção B hollywoodiana cujo nome me foge à memória nesse exato momento. Daí em diante o estrago já estava feito e eu comecei a perambular pelas lojas de discos e (com mais frequência) chafurdar entre as prateleiras dos sebos, verdadeiros santuários criados em homenagem a essas criaturas esquisitas e ambíguas chamadas vulgarmente de fãs. Logo estava adquirindo a preços mais do que justos - em alguns casos verdadeiras bagatelas - peças raras como o antológico What's Going On (1971), um divisor de águas na carreira do artista na opinião de 9 entre 10 fãs.

Imagine então o meu frenesi quando soube ano passado que a empresa responsável pelo espólio da Motown relançaria em edições incrementadas o repertório desses gigantes e, mais especificamente, entregaria ao mercado um Box com uma coletãnea tripla de Marvin em comemoração aos seus 70 anos de carreira e quando celebravam-se os 25 anos da morte do cantor. Reiniciei minha poupança cultural (é como chamo minha reserva de capital para compras bastante cobiçadas de produtos culturais de primeira grandeza). Com os CDS à mão, mais do que adoração a certeza de um investimento lucrativo. 50 é uma peça ímpar para os colecionadores mais exigentes de música de qualidade e que não querem acompanhar seus ídolos por versões comerciais do rádio adulteradas pelo excesso de remixagens.

Além da já citada What's Going On, vale a pena destacar hits como Let's Get it On, I Heard it Through the Grapevine (um dos singles mais vendidos de toda a história da gravadora), Mercy Mercy Me, You are Everything (em dueto com Diana Ross), I'll Never Stop Loving You e Ain't no Mountain High Enough (ambas lado a lado com a sua parceira mais frequente, a cantora Kim Weston, tendo a segunda virado hit parade na voz poderosa de Tina Turner). E para não consagrar a coletãnea como obra-prima Hors Concurs, um pequeno deslize: a ausência (sentida, é fato!) de Sexual Healing - citada acima - no repertório dos 3 CDs, que foi gravada pelo artista após sua saída da gravadora. Contudo, se levarmos em consideração a qualidade da seleção proposta pelo Box, é um mísero revés diante da magia musical oferecida pelo produto.

Momento reflexivo: é com tristeza que olho para os novos grandes nomes da música americana atual, repleta de ídolos teens e emos vazios e fraudes exóticas que são alimentadas a um nível estarrecedor pela indústria maciça do entretenimento (como é o caso desse produto clonado, que nada tem de original, chamado Lady Gaga). Triste porque para quem, como eu, soube idolatrar Talentos como Marvin e os demais citados no primeiro parágrafo, que sabiam como poucos dar valor às suas carreiras e ao público - sem contar o capricho com que preparavam seus álbuns e o apreço com que tratavam suas gargantas - olhar para o que está em voga atualmente é quase, em alguns momentos, admitir a hecatombe final do mercado fonográfico. Ainda bem que, para os fãs mais ardorosos e exigentes (legião da qual faço parte), ainda existem produtores dispostos a fornecer reedições importantes como essa que permancerá em minha coleção particular por longas eras.       

Um comentário:

  1. Belissimo texto, realmente, Motown é um marco na história da música e vale a pena ser lembrada sempre. Eternamente Michael Jackson, viva o rei. Abraço e obrigado por visitar meu blog xD

    ResponderExcluir