quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Quadrinhos: "Vida Louca", de Jaime Martín




"Por que adolescência precisa, para algumas pessoas, ser sinônimo de desajuste?": essa pergunta encontra-se assim, entre aspas, pois foi motivadora de um debate dentro da minha faculdade (no dia em que fui renovar a minha matrícula) que poderia ter sido esclarecido rapidamente, mas acabou durando bem umas duas horas. E desde já adianto que não tenho uma resposta definitiva para essa questão. Até porque sempre achei que minha adolescência foi meia-boca em excesso. ficou faltando algo pelo meio do caminho que eu não sei exatamente explicar o que é. Entretanto, todo aquele blá-blá-blá estudantil - sabem como é estudante universitário quando se engaja numa discussão! - fez eu me lembrar de uma graphic novel inteligentíssima e muito bem cuidada que li no mês passado.


Vida Louca, do quadrinista Jaime Martín, é um soco no estômago mais que necessário se o tema for entender esse tipo de questionamento proposto acima. Tendo como pano de fundo a periferia de uma Espanha recém-democratizada na década de 80, mais especificamente o bairro de L'Hospitalet de Llobregat, em meio a uma crise econômica que faz com que o lugar não deva nada a muitos países deficitários do terceiro mundo, o autor conta a história de Vicen, um jovem que se depara com aquele universo sem muitas esperanças de crescimento.


A vida que se apresenta para Vicen não é nada agradável: a mãe envolvida com um homem um tanto suspeito e que logo de cara vira alvo de sua dúvida, a escola dominada por gangues juvenis que impõem a lei do mais forte a qualquer custo (e onde um rapaz sem muitos valores aprende facilmente o significado da palavra banditismo), o rock n' roll underground inundando as rádios como se fosse uma metralhadora ideológica...Em meio a tudo isso, a criminalidade muita vezes soa como o único caminho, a única busca para a sobrevivência. E é essa rota que Vicen escolhe.


O grande mérito do autor está na maneira como ele trata a dicotomia deliquência X criminalidade (que, para muitos, pode parecer a mesma coisa, mas isso não necessariamente é verdadeiro). "Sempre há uma barreira, entre tantas outras, que parece mais difícil de ser ultrapassada", parece dizer Martín, "e muitas vezes escolhas difíceis sempre acarretam em tragédias pessoais". O grande problema é quando a volta por cima não se apresenta e temos de simplesmente lidar com o fato de que perderemos algo e não haverá substituto para aquela perda. O que resta, no caso, é seguir em frente.


Um retrato forte, niilista e, por vezes, melancólico de uma geração que fez por onde ser rotulada de perdida (a bem dizer eles mesmos procuraram por isso). Contudo, uma história que precisa ser contada para que, pelo menos, as futuras gerações caiam em si e não cometam o mesmo erro.


2 comentários:

  1. Olá!

    Como pedido um dos filmes que você recomendou já foi postado: Control.

    Esperamos sua visita!

    Até.

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  2. Wow... deve ser muito foda.

    Já li bons comentários a respeito...

    vai pra fila aqui. ainda preciso comprar o HQ sobre johny cash! hehe

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