sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Literatura: "Canções do Rio", de Marcelo Moutinho



Como pode existir gente que não reconhece a música popular brasileira como uma das criações mais geniais da humanidade? Poucos são os países do mundo que conseguem ter uma diversidade musical tão vasta quanta a nossa. E isso é fruto não só de regionalismos, mas também de povos estrangeiros que aqui chegaram e contribuíram  - e muito, diga-se de passagem - para que nossos compositores estejam sempre na crista da onda quando o assunto é ritmo e melodia. Muito bem! Alguns dirão: "mas Pseudo-Autor, a nossa música anda tão mascarada, tão pobre, tão cheia de gente que não diz nada" e eu confesso logo de cara que isso é verdade. Há poucos talentos novos num universo onde gíria e marra tomou o lugar de talento e mérito, mas existem também colecionadores de boa música, revivalistas, os downloads (e aqui rendo graças aos célebres criadores do download, pais da liberdade de expressão contemporânea) e a facilidade de se ter acesso à música em qualquer lugar, sem precisarmos nos prender a rádios comerciais com seus jabás desonestos e que só corromperam e afastaram grandes nomes de nossa música das paradas de sucesso.

O grande êxito de ler Canções do Rio, livro de ensaios musicais organizado pelo escritor Marcelo Moutinho, é a possibilidade que ele nos oferece (digo nós, amantes da boa e verdadeira música nacional) de manter novo contato, reaproximarmo-nos ou finalmente conhecermos - dependendo da geração a que se pertença -a nata de nosso cancioneiro popular. Trazendo textos de intelectuais de renome como João Máximo, Sérgio Cabral, Nei Lopes, Ruy Castro, Hugo Sukman e Sílvio Essinger, a obra literária traz um vasto panorama de nossa arte musical pintada com cores alegres e muito bem definidas nas palavras apaixonadas e de credibilidade de gente que vive no meio e sabe o valor histórico que esse material possuiu para a formação da sociedade como um todo. Afinal de contas, o que seria de nós como povo não fossem as canções que embalaram nossas vidas?

Num passeio que começa pela era de ouro da nossa música, enfocando a importância do rádio não só como formador de opinião, mas principalmente como confidente e responsável por muitas das paixões da época (e até hoje), acompanha o embalo das marchinhas carnavalescas, com seus bordões inesquecíveis e suas histórias de vida lúdicas, marcadas por muito humor e irreverência, sacolejando as comunidades mais carentes no ritmo das rodas de samba e de lendas como Cartola, Zé Kéti e pilares como a Estação Primeira de Mangueira, mostrando as conversas de barzinho e encontros de apartamento que geraram o movimento da Bossa Nova, reunindo gigantes como Tom Jobim, Vinicius de Moraes, Baden Powell e João Gilberto (isso só para ficar nos maiores) até a chegada das canções modernas, antenadas com novas tecnologias e os guetos e periferias que apresentaram vertentes como o funk, o rap e o hip-hop, Moutinho só podia mesmo ter o trabalho de juntar num volume único toda essa experiência e excelência artística.

Agradabilíssimo, inventivo, saudosista, emblemático, apaixonante: assim é a proposta de Canções do Rio, um modelo literário que certamente deve ser seguido com mais frequência por outras editoras, seja para apresentar às novas gerações um pouco de nossa história musical, seja para ficar como registro antropológico e etimologico de uma era que nunca morrerá, mesmo que algumas pessoas ligadas ao meio façam de tudo para desmistificar o poder dessa indústria junto à opinião pública. 

2 comentários:

  1. E olha que o cancioneiro popular, atualmente, é uma arte em decadência. Dos compositores atuais, acho que somente meu querido Marcelo Camelo se dedica a esta forma musical. Bela dica, Roberto!

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  2. E ai Roberto, td bem?? Desculpa a demora em visitar seu blog...agora que consegui arrumar um tempinho...bom, vi esse livro na Bienal em SP no ultimo mês e fiquei morrendo de vontade de comprar, mas no final acabei levando um de cinema rsrsrsr (não tinha grana pros dois)...apesar de ter ido pro RJ só uma vez (no reveillon 2009-2010) eu adorei a cidade e não vejo a hora de ir de novo (já estou planejando Reveillon e Carnaval rsrsrs..só preciso arrumar dinheiro...

    Sobre a música nacional, concordo contigo quando vc diz que é um absurdo que MUITA gente prefira as músicas americanas atuais do que a nossa fértil gama de compositores e intérpretes mais que talentosos...nossa música é desvalorizada mesmo diante de sua qualidade excepcional....e o Rio é A vitrine da boa música brasileira...simplesmente genial!!

    Abrs

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