segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Animação: "Mary e Max - uma amizade diferente", de Adam Elliot.



Mary Kindle é simples, tímida porém curiosa, filha de uma mãe opressora que quer a qualquer custo mantê-la longe de seus interesses e curiosidades, está sempre fotografando o que acha diferente e sempre à procura de novas amizades onde quer que elas estejam. Max Horowitz é conservador em excesso, recalcado, cheio de manias, sofre da síndrome de Asperger, alucinado por inventar as receitas mais curiosas e de gosto duvidoso (como o cachorro-quente de chocolate e o hambúrguer de espaguete) e totalmente avesso a grandes contatos íntimos com outras pessoas. Duas pessoas que jamais seriam imaginadas lado a lado, batendo um papo, trocando ideias e que, no entanto, graças a uma escolha aleatória nas páginas amarelas e corriqueiras correspondências, transformou-se numa amizade que foge completamente do convencional.

Mary e Max - uma amizade diferente, realizada pelo australiano Adam Elliot, é mais do que simplesmente uma animação engraçada. É praticamente uma parábola sobre o humor às avessas, reunindo no mesmo plano uma parceria que teria tudo para dar errado e, no entanto, acaba se mostrando como a solução para o problema de relacionamento de dois soltários. Se por um lado Mary não entende o mundo daquele homem excessivamente bronco e anti-social, cheio de esquisitices, que pra tudo inventa uma desculpa e que, volta e meia, deixa de enviar suas cartas, quase estragando a amizade postal por uma bobeira, por outro Max não consegue imaginar o que levaria uma menina daquela idade a querer manter uma amizade duradoura com um chato de galocha como ele. Porém, o fato é que - como bem diz a lei de newton da física - os opostos se encontram, se atraem e têm muitas histórias para contar um ao outro.

Contando com as vozes de Toni Colette, Philip Seymour Hoffman e Eric Bana no elenco, Elliot nos entrega de presente uma das produções animadas mais divertidas e corajosas dos últimos anos justamente por não se encaixar em nenhum aspecto no modelo de história que o gênero anda oferecendo aos espectadores nos últimos tempos. Não existem aqui heróis, modelos de conduta a serem seguidos, muito menos uma paixão avassaladora capaz de fazer desmoronar a vida de quem quer que seja. Pelo contrário: o que existe aqui é a busca de um entendimento, de um convívio, respeitando-se os defeitos e diferenças do próximo, mesmo quando essa tarefa parece, à primeira vista, praticamente impossível.

No final das contas o que está diante dos espectadores (que terminam apaixonados ao final da projeção) na pouco mais de uma hora e meia do filme é uma quase-crítica aos relacionamentos virtuais que permeiam nossas vidas na atual sociedade, um mundo em que as pessoas parecem estar fugindo do contato pessoal. Outro dia desses, assistindo um programa do Canal Futura, acompanhei uma entrevista com um terapeuta de renome, com vários livros publicados na praça, verdadeiro best-seller no ramo em que atua, que em determinado momento da conversa dizia: "O grande dilema da sociedade contemporânea é que, por medo de arriscar, de fazer uma tentativa de conhecer o outro, devido a tantas desilusões e decepcionantes desfechos amorosos do passado, estamos preferindo o anonimato da internet. A grande questão é saber até que ponto isso será suficiente para nós". Em Mary e Max, Elliot parece ter enxergado isso e passado a informação adiante de uma forma extremamente inteligente e sem soar agressiva, tornando o resultado aos olhos da plateia um primor.

Trailer oficial de Mary e Max - uma amizade diferente:

3 comentários:

  1. Longe de ser um filme infantil e fácil, "Mary e Max" é uma animação melancólica. Sem falar que dialoga com muito brilhantismo com aqueles que se identificam com a história de amizade à distância...

    ResponderExcluir
  2. Muito bem colocado esse parágrafo final. A dificuldade de relacionamento é grande. E o filme é muito bem realizado. Como você falou "terminam apaixonados ao final da projeção".

    ResponderExcluir