segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Cinema: "Wall Street - o dinheiro nunca dorme", de Oliver Stone



Quando as torres Gêmeas do World Trade Center foram atingidas pelo ataque terrorista promovido pela Al-Qaeda em 11 de setembro de 2001, os EUA sofreu um nocaute muito maior do que quebrar a sua autoestima e senso de patriotismo. Tocou-se ali no ponto fraco de nossos "amigos" do Tio Sam: o bolso. Uma derrocada financeira abateu-se sobre o país e perdura até os dias atuais. Nunca foi tão difícil conseguir um emprego, pagar uma hipoteca, mater as contas em dia. E se é assim para quem está em franca atividade profissional, imagine então para quem ficou preso por oito anos cumprindo pena por venda de informação privilegiada. Esse é Gordon Gekko (Michael Douglas), o homem  que ditava as regras nos anos 80 e que agora sai da cadeia com uns poucos pertences e a certeza de que perdeu o respeito e a admiração daqueles que realmente importavam. Porém, como não tem tempo para curtir uma fossa nem desempenhar o papel do gato acuado, vencido, e as chances de sucesso dentro do jogo em que ele era um dos melhores são ínfimas atualmente, é preciso ter astúcia. Astúcia e muita paciência. Sabendo lidar com os peões que estão à sua disposição.

Em Wall Street: o dinheiro nunca dorme, Oliver Stone volta a fazer as pezes com a câmera depois de um período extenso de filmes medianos e desnecessários e apresenta em longos planos uma cidade de Nova York marcada pelo medo e a incerteza do que virá nos dias futuros. Dias esses em que Jake Moore (Shia LaBeouf), um dos novos agentes do que hoje podemos chamar de mercado financeiro globalizado, muito mais interessado em questões ambientais e fontes renováveis de energia do que apenas em royalties e contas bancárias majestosas, é uma das grandes estrelas. Diante da paixão (ou ambição, como preferir chamar) desse jovem investidor que namora a sua filha, Gordon Gekko vê as mudanças de postura que terá de assumir para conquistar a sua volta por cima. Porém, logo ali na esquina, está o verdadeiro inimigo: Breton James (Josh Brolin), o tubarão do mercado capitalista em crise, aquele que espera pacientemente as grandes tempestades acontecerem para construir o seu império. Esse é o verdadeiro alvo de Gekko que, para poder atingi-lo, terá de saber lidar (e manipular) com a juventude de Jake e as novas regras que esse mercado impôs.

Amparado pelo roteiro da dupla Allan Loeb e Stephen Schiff que, apesar de alguns falhas em determinadas defesas de opiniões e no fraco desfecho, não compromete o desenrolar da trama, Stone nos apresenta um cenário de embates extremamente ácidos como há bastante tempo não via no cinema americano, desde a filha raivosa Winnie (Carrey Mulligan) que simplesmente deletou o pai de sua vida, culpando-o pela morte do irmâo, vítima das drogas, até o mentor de Jake, Louis Zabel (pequena, mas intensa participação do ótimo ator Frank Lagella) que percebe o fim da carreira de uma forma desonrosa, engolido por homens inescrupulosos que desaprenderam rapidamente - questão de sobrevivência - conceitos como ética e justiça, Wall Street 2 passeia por um vendaval de discursos amorais e cínicos, apontando suas armas, que inicialmente parecem invisíveis, mas no fundo foram criadas com a clara intenção de ocultar as suas reais intenções.

O filme é, em poucas palavras, ardiloso, cheio de malícia ambígua, uma plena sensação de se estar andando em gelo fino a todo instante. Nada é dito às claras e verdade e mentira são como soldados que mudam de lado durante a guerra, conforme seus exércitos vão perdendo a força. Ao final da sessão, um senhor de idade levanta-se, voz da experiência, vira-se para mim e diz: "parece um jogo de pôquer que durou duas horas, consumiu todo o dinheiro das apostas, e não se tem a certeza de quem realmente ganhou". Achei a melhor definição sobre o filme até o presente momento. O que o polêmico diretor nos entrega é exatamente isso: um jogo em que descobrir quem é o vencedor ao final do confronto é tão complicado e enigmático quanto o próprio jogo em si. 

Veja o trailer do filme:
 

3 comentários:

  1. Eu gostei bem mais do anterior, mas esse ainda tem alguns aspectos bem interessantes, como a malícia ambígua, como você bem disse no texto. No entanto, o ponto alto, para mim, continua sendo o Michael DOuglas. Os anos passaram e ele continua simplesmente impecável como Gordon Gekko!

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  2. Oi!!! Seu blog também é muito bom! Obrigada por visitar o Sala Latina de Cinema. Volte sempre! Um grande abraço.

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  3. Fiquei com vontade de assistí-lo depois de sua crítica. Como eu não gostei do final do primeiro filme, eu tihna decidido não assistir esse...

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