terça-feira, 8 de junho de 2010

Cinema: "O segredo dos seus olhos", de Juan José Campanella



É impressionante como o passado afeta as nossas vidas (muitas vezes de maneira indestrutível). Ele é como uma espécie de aura sempre sobrevoando ao redor de nós, testando nossos limites, nossa força, nossa fé, quase uma visão perturbadora do fim dos dias. E nós, reféns desse sentimento, nada podemos fazer senão querer reencontrá-lo, buscando respostas que ficaram escondidas, em muitos momentos por tempo demais.


Em O segredo dos seus olhos, filme de Juan José Campanella vencedor do Oscar de melhor filme estrangeiro esse ano, parece que nos encontramos - em todas as nossas deficiências morais - no personagem de Benjamín Espósito (Ricardo Darín), um ex-funcionário público aposentado do Tribunal Penal de Buenos Aires que pretender escrever um livro que retrata um caso que investigou no passado e que nunca saiu de sua cabeça. O que ele nunca se deu conta (ou não se interessou por levar em consideração) é aquela história continua marcando os passos de sua vida, mesmo hoje, passadas décadas do "desfecho" do caso.


Desespero, amor perdido, injustiça, abuso policial, tudo se combina nesse thriller investigativo latinoamericano, fazendo com que os espectadores em determinados momentos se sintam sufocados diante de tamanha falta de compaixão e de sucessos interesses escusos.


O filme não é peça fácil, nem prima por grand finales majestosos (marca característica do cinema hollywoodiano, que visa dar sempre esperança de um mundo melhor para o público). Aqui, o que está em jogo é a covardia humana que sempre se manifesta através de um interesse mórbido por reavivar o que não tem mais jeito ou resposta, mas mesmo assim o perseguimos com unhas e dentes, como uma espécie de muleta, achando que com isso traremos conforto a nossa desesperança. E para isso, esse ensaio à nostalgia serve como excelente ferramenta.



4 comentários:

  1. Ah, um exercício de sensibilidade e humanidade é este filme.

    Bom texto!

    abraço

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  2. Gostei muito desse filme, que pretendo rever, pois perdi o seu início. O cinema argentino vive uma grande fase. Um abraço. Em tempo: muito atraente a atriz principal.

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  3. Eu Preciso ver este filme. Sim, com "p" maiúsculo!

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  4. Muito boa sua reflexão sobre os aspectos do filme. Curti pra caramba o texto tb.

    Esse filme me conquistou. Considero um dos melhores que vi neste século.

    Abraços.

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