quinta-feira, 17 de março de 2011

Música: "Rádio Pirata ao vivo", de RPM



A notícia - feliz, é bom que se enalteça! - de que bandas de rock que embalaram a trilha sonora da minha adolescência nos anos 1980 voltariam a estúdio para gravar álbuns inéditos caiu como uma luva para preencher a minha necessidade de retomar contato com os roqueiros tupiniquins. Nunca foi tão chato ouvir rock n' roll nacional, numa época em que imperam bandas de gosto duvidoso como Restart e NXzero. O meu deslumbramento foi tamanho com a nota divulgada no Jornal O Globo que impossível seria não relembrar do fatídico ano de 1986 e da revolução proporcionada aos fãs do gênero pelo grupo RPM. Que me perdoem os que não eram nascidos na época, mas quem não curtiu a adrenalina apresentada ao país por Paulo Ricardo, Luiz Schiavon, Fernando Deluqui e Paulo P.A Pagni, simplesmente precisa se inteirar mais sobre o verbete rock.

Rádio Pirata ao vivo, segundo álbum da banda, gravado ao vivo no Complexo do Anhembi, em São Paulo, e com direção do cantor Ney Matogrosso, é - gostem ou não os críticos, que adoram dividir opiniões - o divisor de águas dessa metamorfose em que o ritmo se transformou. Seja pela celebridade que seu vocalista  viria a se tornar após o lançamento do álbum (e, com isso, muitos na época chegaram a cogitar que Paulo Ricardo não fosse realmente um artista, mas um mero sex symbol que seria tragado, com o tempo, pela fama), seja pelas letras fortes, ácidas, divertidas, a cara de uma geração que procurava os seus valores em um país que parecia confuso, perdido à primeira vista, Rádio Pirata foi uma alienação (mais: um revitalização) para um rock brasileiro que já bombava, com nomes como Barão Vermelho, Paralamas do Sucesso, Legião Urbana, entre outros. Nenhum outro disco vendeu tanto quanto ele no período (e falo de mais de 2,5 milhões de cópias vendidas em território nacional).

Como destacar minhas preferências num trabalho tão bem realizado e de repertório tão apaixonante quanto esse? Apesar de se tratarem de apenas nove faixas, o brilhantismo com que o show foi realizado é digno de nota e, dificilmente, os apreciadores do estilo ficarão desapontados com o resultado final. Indo da belíssima instrumental Naja a internacional London, London, clássico de Caetano Veloso dos tempos de exílio na capital inglesa, e passando pelos hits - imprescindíveis em qualquer turnê do grupo - Olhar 43, Alvorada Voraz e A Cruz e a Espada, o álbum reúne, em poucas palavras, o melhor desse período musical de quem esse blogueiro que vos fala guarda tantas boas recordações.

Aos acordes finais do show gravado (que ouço novamente pela centésima vez) e passadas mais de duas décadas da revolução proposta, a impressão que fica é a de que o rock regrediu - e muito. Onde foram parar aqueles herois da resistência que com uma simples guitarra e arranjos de fácil execução um dia tentaram mudar o mundo? Onde foi parar a Geração Coca-Cola que o Renato Russo tão bem cantou? Hoje, ao contrário, o que se vê é uma comercialização desenfreada da música (seja online ou nas raras lojas que ainda sobrevivem bravamente), onde criação artística e significado deram lugar a cifras astronômicas e artistas de segunda com patrimônios milionários. E este pobre coitado, escritor da internet e do Jukebox, sonha - pois sonhar ainda é gratuito - que, com o retorno desses titãs do gênero ao cenário musical de onde nunca deveriam ter se ausentado, novos ventos tragam ritmos agradáveis e ideais antigos à baila. Nossos ouvidos (acredito falar por muita gente) agradecem!


Clipe oficial do show:

London, London ao vivo:


       

Um comentário:

  1. Adoro esse disco! Meu tio tinha-o em LP e a gente acabou ficando com ele depois de passarmos a férias lá na cidade dele. Gosto tanto que até comprei o CD.

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