terça-feira, 19 de abril de 2011

Opinião pública: a cultura teen e seus "ídolos".



Eu já fui adolescente não faz muito tempo e ainda assim me surpreendo com o grau de alucinação que a atual juventude desse Brasil varonil em que vivemos cultua como modelos a serem seguidos. Outro dia desses, em uma de minhas infindáveis "viagens" pelo mundo mágico do You Tube, deparei-me com o misto de celebridade com coisa nenhuma chamado Felipe Neto. Ele produz vídeos num programete feito por ele mesmo chamado Não faz sentido! em que esculhamba a torto e a direito as modinhas que andam fazendo a cabeça da atual geração. Porém, ele próprio se esquece de que também é uma modinha passageira como tantas outras. Terminados os vídeos em que ele detona a galera que cultua Fiuk, a saga Crepúsculo, Justin Bieber e outras figuras antológicas do atual show business atual, pergunto-me: o que é um ídolo para a atual cultura teen?

O próprio jargão cultura teen já é um estereótipo a ser discutido. Tenho um vizinho, muito mais cinéfilo do que eu, que defende a ideia do teen como subproduto. "Toda vez que eu vejo um filme de hollywood ou uma peça de teatro ou mesmo um programa televisivo ser divulgado como voltado para a cultura teen, eu vejo aquilo ou como enganação ou caça-níqueis", diz ele volta e meia. Infelizmente, por algum motivo eu concordo em parte com essa declaração, pois os programas teens são realmente o fim da picada. E fico chateado de ver o acúmulo desses produtos infestando o mercado de entretenimento. Da compra da Marvel pela Disney Pictures até essas bandas de Rock Colorido (Meu Deus! O que é isso, no final das contas?) com seus cabelos sem noção, vozes esganiçadas e um discurso cheio de "tipos assim e assados", o meu refúgio é ir alimentando o meu desejo de manter a nostalgia viva em meu cotidiano e me reencontro com aquilo que marcou a minha adolescência (leia-se: Blitz, Lulu Santos, Stanley Kubrick, os romances de Jorge Amado, os quadrinhos da Turma da Mônica, entre outras referências) e não reforçando esse modismo, por vezes exagerado, em outras até mesmo vulgar.

Entre as mais diferentes tribos (os Emos e clubbers e geeks e góticos e outras dinastias), acabou-se o respeito pelo gosto do próximo. A turma fã de vampiros que se maquiam e andam pelo sol na maior pinta de galãs fica num quadrado diferente da turma que curte zumbis babando pelas estradas ensolaradas que, por conseguinte, não se dá com a galera que é fã de super-heróis e seus super poderes megalomaníacos e, não bastasse isso, não bate de frente com quem é fã de Iron Maiden e outros fãs do puro Heavy Metal e... E por aí vai, numa reflexão que levaria séculos para ser entendida em sua totalidade. É cada macaco no seu galho, cada um defendendo o direito a dizer que a sua banana é melhor do que a do outro. Uma questão de status, pura e simplesmente.

A conclusão final sobre o tema é que não existe conclusão final. Lembro de uma música do sambista Bebeto que dizia que "macaco velho não bota a mão em cumbuca" e decidi seguir essa prerrogativa. Infelizmente, vivemos um tempo de intolerâncias postas à prova 24 horas por dia. Bullying, levar vantagem sobre o próximo, homofobia e racismo são esportes nacionais cultivados com muito gosto por legiões e legiões de preconceitos que chamam o seu defeito de atitude ("Eu tenho atitude, mano, e é isso que as pessoas não aceitam", ouvi outro dia um tipo desses defendendo a sua moral torpe). Quer dizer que atitude agora é esculhambar os demais e passar por cima da opinião alheia em prol de um gosto pessoal e, no mínimo, duvidoso? Então - queira Deus que não - estamos fadados a extinção.

Eu fiz de tudo para que esse texto não soasse revoltoso ou reacionário, mas não consegui. Falar dos jovens, nos últimos tempos, me deixa assim: possesso. E pensar que, no meu tempo, chamavam a geração de 80 de Geração Perdida. E isso aí é o quê, então?

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Cinema: "Sucker Punch - mundo surreal", de Zack Snyder.



Poucas são as vezes em que saio realmente extasiado ao final de uma sessão de cinema nos últimos tempos (e me refiro aqui exclusivamente às salas de exibição e não as minhas experiências com a sétima arte em sessões privadas de vídeo). E Sucker Punch, de Zack Snyder, conseguiu isso! Já tem gente nos blogs de cinema e nas revistas especializadas metendo o malho no diretor e na produção, mas a grande verdade é que poucos hoje em dia passam perto da estética de Snyder quando o assunto é entretenimento (exclua-se desse comentário pré-requisitos como exigência, "filme para pensar" ou revolução cinematográfica). A fórmula, que começou a ser construída em filmes como Madrugada dos mortos e 300 e chegou a seu ápice com Watchmen, segue seu caminho de exuberãncia nessa história que é uma verdadeira homenagem ao nonsense.

Snyder conseguiu fazer praticamente todos os filmes dentro de um só filme. Existem atrações (a película, em alguns momentos, lembra um fascinante parque de diversões) para todos os gostos: a questão psicológica, a sequência de guerra avassaladora, o medievalismo, o aparato high-tech, o momento sci-fi com seus andróides de última geração e, finalmente, a beleza de suas protagonistas (e aqui exalto, com mais intensidade, a beleza da atriz Abbie Cornish. Meu Deus, que mulher é aquela!), ornamentadas pelo glamour dos cabarés, das private dancers. 

Contudo, a utopia das batalhas e das exibições privé, tudo é um mero disfarce para que Babydoll (a ninfeta Emily Browning) possa lidar, com mais facilidade, com a realidade torpe do manicômio Lennox House. Encarar a verdade num mundo como esse pode ser extremamente nocivo e, muitas vezes, a única escapatória é procurar através dos subterfúgios criados pela própria mente um esconderijo que lhe permita encontrar forças para continuar lutando e seguindo em frente.

Exageradamente comparado à A Origem, de Christopher Nolan (não vejo aquilo que se passa no mundo surreal de Snyder como um sonho de construção similar à aventura do recriador da franquia Batman), Sucker Punch é um pout-pourri de referências pop as mais diversas. Seja na direção de arte impecável - que constrói cenários diabólicos com a mesma intensidade com que arrebata os mais nostálgicos ao recriar o mundo burlesque das boates de strip-tease, tudo a serviço de suas personagens, para que encontrem os cinco objetos necessários a sua fuga -, seja na trilha sonora mista de cosplays e hits do passado, capitaneada pela força da voz de uma Bjork simplesmente arrebatadora.

Terminadas as quase duas horas de projeção o que resta ao espectador é render-se a genialidade de seu criador, sem dúvida uma das melhores mentes criativas que surgiram em Hollywood nos últimos anos, mesmo quando tem de lidar com preconceitos injustos e gente invejosa que não reconhece o seu talento. Talvez o fato de não se tratar de uma adaptação de HQ ou filme de vampiro, zumbi, bruxo, anjo ou outro fenômeno blockbuster do momento e trazer como mote da história uma saga de sobrevivência onde só os que pensam encontram uma saída (e eu não tenho visto a sociedade parando para pensar em nada de importância atualmente!) tenha afastado grande parte da plateia. Afinal de contas, o óbvio e o imediatismo paira sobre o mundo de forma desagradável. Entretanto, para quem busca um algo a mais, quem está atrás de uma mensagem que realmente valha a pena, mesmo que entremeada pelos trocadilhos, metáforas e ironias do diretor, Sucker Punch é a pedida ideal.

Impossível sair da sessão (se você realmente captou o espírito do filme) sem pelo menos, pensar a respeito da sua própria vida. Isso - repetindo a crítica do parágrafo anterior - se você pertence a tribo dos que ainda pensam em pleno século XXI.


Trailer de Sucker Punch:
http://www.youtube.com/watch?v=G68fHZig9nA
 

quarta-feira, 30 de março de 2011

Literatura: "Toxina", de Robin Cook



Eu sempre tive receio desses estabelecimentos que vendem fast food. Acho essa cultura da "comida rápida" um verdadeiro veneno para o organismo de qualquer ser humano. E quando esbarro em matérias jornalísticas que denunciam as práticas degradantes desse mercado de alimentação (já acho alimentação, nesses espaços, um termo um tanto exagerado), aí então minha desconfiança atinge a estratosfera. Em Toxina, romance do escritor e médico Robin Cook vi essa realidade torpe ser multiplicada à décima potência, fazendo com que eu refletisse ainda mais sobre a real importância ou necessidade, como vocês preferirem chamar, desse tipo de opção no cardápio da população.

Na trama, um médico e sua filha vão a uma dessas redes de lanchonetes famosas dos EUA e pedem um especial da casa. A carne, malpassada, à primeira vista não chama a atenção nem perturba nenhum dos dois, que devoram o lanche com gosto. O problema começaria momentos depois quando a menina passa mal e, levada a clínica mais próxima, descobre-se que ela desenvolveu em seu organismo uma bactéria E. Coli de alto nível de mortalidade, fazendo com que o pai entre numa roleta russa diária para encontrar uma cura para a filha.

O que se vê a partir de então é uma verdadeira enciclopédia de excessos, práticas ilegais (de compra de gado doente a falta de higiene nos matadouros dos fornecedores de carne da rede de lanchonetes), abusos de autoridade (há uma horda de empresários inescrupulosos que fará de tudo para impedir o médico e pai e manter viva a sua posição de líder no mercado) e, principalmente, a conivência do próprio hospital onde trabalha, que não quer se ver envolvido na polêmica, ameaçando-o inclusive de demissão.


Toxina é, para os fãs de literatura médica, o que o filme Nação Fast Food, de Richard Linklater, é para os amantes do cinema: um verdadeiro tapa na cara dos consumidores e produtores desse tipo de comida. Através de denúncias muito bem embasadas - certamente provenientes da pesquisa pessoal de Cook  na área - num discurso literário envolvente, o autor consegue (como fez brilhantemente em vários momentos de sua carreira como ficcionista, a destacar obras como Vírus e Coma) deixar seu alerta às autoridades competentes e ao público, que precisa ficar mais atento com o que come hoje em dia.


Prova viva e irrefutável disso são os índices astronômicos envolvendo casos de obesidade ao redor do mundo desde a criação e consequente popularização desse tipo de estabelecimento (e cuja tendência é piorar, se assim o permitirmos).

quinta-feira, 24 de março de 2011

In Memoriam: Elizabeth Taylor (1932 - 2011)



Deixou-nos a diva dos olhos de violeta, a eterna Cleópatra que tanto encantou Marco Antônio (vivido pelo ator Richard Burton) a ponto de desposá-la por duas vezes. Uma vida de escândalos, atuações marcantes, casamentos frustrados (foram oito durante toda a vida), sorrisos inesquecíveis e uma silhueta de fazer inveja a muitas das sex symbols do cinema mundial que invadem as páginas das mais importantes revistas ao redor do mundo. Ela era polêmica, um verdadeiro vulcão em erupção e, muitas vezes, bastava um simples olhar matreiro para a câmera para que o espectador tivesse a clara sensação de estar diante do paraíso. E acreditem: quem nunca viu um filme dessa mulher, não sabe a falta que ela vai fazer (já está fazendo, há pelo menos três décadas) na indústria cinematográfica norte-americana.

Elizabeth Rosemund Taylor - ou simplesmente Liz Taylor - é, na opinião desse humilde e sarcástico blogueiro e agitador virtual, o maior símbolo sexual até hoje visto na história do cinema. Que me perdoem os que fazem questão de entregar o posto a Marylin Monroe ou Audrey Hepburn quando o assunto é o lugar de honra nesse pódio de beldades do cinema (e nada contra a beleza esfuziante de ambas!), mas Elizabeth foi até hoje a única diva do star system americano a conseguir me fazer acreditar que a beleza, em certas ocasiões, deve ser fundamental, como já apregoou no passado o poeta carioca Vinicius de Moraes.

Da sedutora prostituta Gloria Wandrous em Disque Butterfield 8 (e a imagem escolhida pela equipe que diagramou a capa do Segundo caderno do Jornal O Globo de hoje já fala por si só) a depressiva Martha de Quem tem medo de Virginia Woolf?, ambas interpretações vencedoras do Oscar, Elizabeth Taylor nos presenteou e, mais do que isso, nos hipnotizou com uma verve poucas vezes vista em Hollywood. Ela era capaz de encantar qualquer plateia - principalmente a masculina - sem emitir um único ruído, sem pronunciar um diálogo sequer.

A um passo da eternidade, O pecado de todos nós, A megera domada, até mesmo num personagem simples como o da sogra de Fred Flintstone (interpretado pelo ator John Goodman) na adaptação para o cinema do eterno desenho animado pré-histórico, servem como referências de uma artista que, diferentemente de algumas exigências do mainstream cinematográfico atual, não precisava ser camaleônica para conquistar o seu público, sempre assoberbado com sua beleza ou encorajado por seu engajamento em lutas as mais diversas (como a do combate à AIDS, por exemplo). Ele só precisava mesmo ser Liz Taylor para brilhar. E nada mais. Seus eternos amigos, Rock Hudson e Montgomery Clift, perceberam isso. As salas de cinema abarrotadas perceberam isso. Esse que vos fala também se rendeu a esse encanto. Encanto que, infelizmente, a partir de agora, não estará mais disponível. Resta-nos seu legado, sua obra. Vá com Deus, eterna diva!

Trailer de Disque Butterfield 8:
http://www.youtube.com/watch?v=zPfseQxUB7c

Trailer de Cleópatra:
http://www.youtube.com/watch?v=NGDyZHlHklo

Cena de Quem tem medo de Virginia Woolf?:
http://www.youtube.com/watch?v=nInE5TITzE8

quinta-feira, 17 de março de 2011

Música: "Rádio Pirata ao vivo", de RPM



A notícia - feliz, é bom que se enalteça! - de que bandas de rock que embalaram a trilha sonora da minha adolescência nos anos 1980 voltariam a estúdio para gravar álbuns inéditos caiu como uma luva para preencher a minha necessidade de retomar contato com os roqueiros tupiniquins. Nunca foi tão chato ouvir rock n' roll nacional, numa época em que imperam bandas de gosto duvidoso como Restart e NXzero. O meu deslumbramento foi tamanho com a nota divulgada no Jornal O Globo que impossível seria não relembrar do fatídico ano de 1986 e da revolução proporcionada aos fãs do gênero pelo grupo RPM. Que me perdoem os que não eram nascidos na época, mas quem não curtiu a adrenalina apresentada ao país por Paulo Ricardo, Luiz Schiavon, Fernando Deluqui e Paulo P.A Pagni, simplesmente precisa se inteirar mais sobre o verbete rock.

Rádio Pirata ao vivo, segundo álbum da banda, gravado ao vivo no Complexo do Anhembi, em São Paulo, e com direção do cantor Ney Matogrosso, é - gostem ou não os críticos, que adoram dividir opiniões - o divisor de águas dessa metamorfose em que o ritmo se transformou. Seja pela celebridade que seu vocalista  viria a se tornar após o lançamento do álbum (e, com isso, muitos na época chegaram a cogitar que Paulo Ricardo não fosse realmente um artista, mas um mero sex symbol que seria tragado, com o tempo, pela fama), seja pelas letras fortes, ácidas, divertidas, a cara de uma geração que procurava os seus valores em um país que parecia confuso, perdido à primeira vista, Rádio Pirata foi uma alienação (mais: um revitalização) para um rock brasileiro que já bombava, com nomes como Barão Vermelho, Paralamas do Sucesso, Legião Urbana, entre outros. Nenhum outro disco vendeu tanto quanto ele no período (e falo de mais de 2,5 milhões de cópias vendidas em território nacional).

Como destacar minhas preferências num trabalho tão bem realizado e de repertório tão apaixonante quanto esse? Apesar de se tratarem de apenas nove faixas, o brilhantismo com que o show foi realizado é digno de nota e, dificilmente, os apreciadores do estilo ficarão desapontados com o resultado final. Indo da belíssima instrumental Naja a internacional London, London, clássico de Caetano Veloso dos tempos de exílio na capital inglesa, e passando pelos hits - imprescindíveis em qualquer turnê do grupo - Olhar 43, Alvorada Voraz e A Cruz e a Espada, o álbum reúne, em poucas palavras, o melhor desse período musical de quem esse blogueiro que vos fala guarda tantas boas recordações.

Aos acordes finais do show gravado (que ouço novamente pela centésima vez) e passadas mais de duas décadas da revolução proposta, a impressão que fica é a de que o rock regrediu - e muito. Onde foram parar aqueles herois da resistência que com uma simples guitarra e arranjos de fácil execução um dia tentaram mudar o mundo? Onde foi parar a Geração Coca-Cola que o Renato Russo tão bem cantou? Hoje, ao contrário, o que se vê é uma comercialização desenfreada da música (seja online ou nas raras lojas que ainda sobrevivem bravamente), onde criação artística e significado deram lugar a cifras astronômicas e artistas de segunda com patrimônios milionários. E este pobre coitado, escritor da internet e do Jukebox, sonha - pois sonhar ainda é gratuito - que, com o retorno desses titãs do gênero ao cenário musical de onde nunca deveriam ter se ausentado, novos ventos tragam ritmos agradáveis e ideais antigos à baila. Nossos ouvidos (acredito falar por muita gente) agradecem!


Clipe oficial do show:

London, London ao vivo:


       

sexta-feira, 11 de março de 2011

Lendas: Charles Chaplin (1889 - 1977)



Ele simplesmente parou o mundo sem proferir, na tela, uma única palavra. Charles Spencer Chaplin, o menino prodígio de Londres, fruto de um lar em frangalhos (os pais se divorciaram quando ele tinha apenas três anos de idade, motivado ora pelas crises emocionais da mãe ora pelo alcoolismo desenfreado do pai), viu sua vida mudar aos cinco anos, quando subiu ao palco pela primeira vez para cantar Jack Jones. Com a internação da mãe no asilo Cane Hill, o garoto é mandado - pela amante do pai - para a Archbishop Temples Boys School. Após seu internato por lá veio a admiração pelo music hall onde, junto com o irmão, iniciou uma carreira lendária no show business.

Sua primeira turnê se dá na trupe de Fred Karno na década de 1910 onde, entre seus intergrantes, constava o comediante Stan Laurel, da futura dupla cômica O Gordo e o Magro. Foi da atuação nesse companhia que surgiu o convite de Mack Sennett para que ele ingressasse na Keystone Film Company (onde estreia no cinema com Making a living). Na Keystone, Chaplin criou o que se tornaria um dos maiores personagens da história do cinema mundial: o vagabundo Carlitos, um andarilho pobretão das ruas que, no entanto, possui todos os requintes e elegâncias de um membro da elite inglesa. Abriam-se ali as portas para um pioneiro do que as artes cinematográficas se tornariam. 

Falar de sua filmografia seria assunto para muitas teses de doutorado ou livros comerciais, tendo em vista que Chaplin retratou, em suas películas, o melhor e o pior da Inglaterra e, em justa medida, do continente europeu. Entre suas inúmeras produções bem sucedidas - Luzes da Ribalta, O Circo, Tempos Modernos, Luzes da Cidade, O Garoto, Em busca do ouro perdido, Monsieur Verdux, O Grande ditador, fora os curtametragens antológicos do início da carreira - percebe-se a preocupação do ator, produtor, diretor, roteirista e compositor (sim, pois muitas das canções que se ouvem em seus filmes são de sua própria autoria!) de denunciar as mazelas e arbitrariedades dos poderosos, o que acabou levando a um interesse ferrenho do artista em montar sua própria produtora e manter, com isso,  o controle criativo de seus trabalhos. Algo que seria alcançado com a criação da United Artists, junto com Douglas Fairbanks e outros atores da época).

Em 1992 o diretor Richard Attenborough dirigiu Chaplin, uma cinebiografia interessantíssima sobre o mestre do cinema mudo, tendo como protagonista o genial Robert Downey Jr. numa recriação de época exuberante. Uma película que eu recomendo em gênero, número e grau para aqueles que desejam entender um pouco da mente irascível e fascinante do eterno Carlitos. Outra fonte de informações excelente é a autobiografia do próprio Chaplin, Minha Vida, trazendo relatos fortes de sua carreira e de sua vida pessoal, dentre eles a derrota nos tribunais por um caso de paternidade não-confirmada, em que o ator não pôde usar o exame de DNA como prova para se defender. 

Chaplin foi pop, reacionário, brilhante, brigão, contestador, gostava de ter a última palavra  em tudo que trabalhava (sua discussão com Marlon Brando nos sets do filme A Condessa de Hong Kong já se tornaram parte da mística contraditória que envolve a sua genialidade) e, muito por conta disso, construiu muitas inimizades dentro da indústria cinematográfica. Porém, por mais que seus detratores queiram negar, o que seria do cinema como obra de arte não fosse o toque magistral e a inquietude desse dínamo da câmera e da arte de atuar? Gostem ou não, cinema sempre será classificado em antes e depois de Charlie Chaplin.   

Trailer do filme Chaplin, de Richard Attenborough:

Cena de O Circo:

Cena de Tempos Modernos:

Frases, textos, pensamentos e poemas que traduzem a mente de Chaplin:


 

quinta-feira, 3 de março de 2011

Homenagem: Selo "Dardos de Qualidade"



Enquanto procurava um tema para o próximo post do Jukebox, fui agraciado pelo blogueiro Matheus Ferraz, do blog Fräuleins sem Uniforme (http://frauleinsuniforme.blogspot.com/) com o belíssimo selo acima, o Dardos de Qualidade. Uma honraria que me deixou tão feliz - o que prova por a + b que aquilo que eu escrevo aqui possui credibilidade - que decidi fazer da ocasião um post próprio. 

Conforme as regras da premiação, devo indicar quatro blogs amigos (dentre a infinidade dos que visito) para também receber o selo. Tarefa das mais difíceis, tendo em vista a quantidade de blogs que eu visto semanalmente, até como fontes de referência (muitos não sabem, mas já saí de várias visitas a outros blogs com ideias brilhantes, verdadeiros achados históricos, que viraram grandes temas aqui no Jukebox).

Após exaustiva escolha - é impossível realizá-la sem ser injusto com alguém - elejo, entre mais de 150 blogs visitados, os citados abaixo:

1) Cine Cápsulas, de Gustavo H. Razera

2) Cinéfila por Natureza, da Kamila:

3) Cultura Intratecal:

4) Dementia 13, de Ronald Perrone:

Todos os autores listados acima serão devidamente notificados de sua premiação conforme o regulamento do prêmio. Sem mais a declarar, deixo aqui registrado o meu mais entusiasmado agradecimento. E longa vida a esse blog!

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Memória: Spectreman



1986/1987. Eu tinha por volta de meus 10, 11 anos e toda vez que chegava da escola nessa época o ritual era sempre o mesmo: largar a mochila em cima da cadeira, ligar a TV no programa do Bozo e esperar a voz do narrador apresentando a música-tema do episódio seguida da seguinte abertura: "Planeta: terra. Cidade: Tóquio. Como em todas as metrópoles deste planeta, Tóquio se acha hoje em desvantagem em sua luta contra o maior inimigo do homem: a poluição. E apesar dos esforços das autoridades de todo o mundo, pode chegar um dia em que a terra, o ar e a águas venham a ser tornar letais para toda e qualquer forma de vida. Quem poderá intervir? Spectremannn!". Começava ali mais um capítulo da série que marcou a minha infância. E as saudades que esse tempo me trazem, ah! são lúdicas.

Spectreman, criação de Tomio Sagisu, estava a anos luz de tudo o que vemos hoje em dia em termos de produções envolvendo efeitos especiais. A história do cientista símio Dr. Gori que, acompanhado de seu fiel escudeiro Karas, criava a partir de detritos provenientes da poluição japonesa as mais bizarras criaturas, até o aparecimento do herói dos raios espectrais (daí o nome do personagem), sempre a postos para executar as ordens dos dominantes, era das mais primárias. Cenários então? isopor em sua quase totalidade, maquetes que pareciam produzidas por estudantes do ensino fundamental, fora as criaturas nefandas, que misturavam espuma, camurça, couro e outros materiais baratos. Porém, a capacidade de atrair espectadores que o seriado gerou na segunda metade da década de 80, com as reprises exibidas na antiga TVS, hoje SBT (originalmente a produção fora exibida na Rede Record nos anos 70, sem obter o mesmo sucesso) era gigantesca. Quantas e quantas vezes o assunto da conversa na escola ou na rua não era sobre o episódio do dia anterior.

É inegável a influência da produção cinematográfica hollywoodiana O Planeta dos Macacos, de Franklin J. Schaffner na série, bem como é impossível não destacar a dublagem, que tinha seus toques de comicidade propositais (afinal de contas, tratava-se da mesma equipe dos Estúdios Maga, responsável por dublar os programas Chaves e Chapolin, além do desenho animado Snoopy, também parte da grade da emissora paulista na época). Para infelicidade dos fãs que curtiram esse período, Spectreman durou módicos 63 episódios, que na verdade seriam pouco mais de 30, já que cada episódio era sempre dividido em duas partes. Uma pena para aqueles que, como eu, ainda moleque, viam naquele tipo de produção o máximo em termos de audiovisual e criatividade. Se até hoje sou fã de filmes trash, devo isso ao herói japonês e sua turma.

Gostem ou não os críticos mais exaltados, a grande verdade é que esse super-herói nipônico conquistou uma legião e tanto de fãs e foi - não resta a menor dúvida - o pontapé para que muitas emissoras nacionais (cabe aqui um destaque para a Rede Manchete no final dos anos 80 e início dos 90) enveredassem pelo gênero Tokusatsu como fênomeno de audiência. Outras franquias como Ultraman, Jaspion, Changeman, Jiban, Jiraya, até o mais recente Power Rangers, acabaram meio que se tornando desdobramentos dessa mentalidade televisiva que viu nessas produções baratas, mas que foram se aprimorando ao longo dos anos, um forte potencial de mercado com público certo. Se hoje fala-se muito - e às vezes desnecessariamente - em 3D, Imax, CGI, Rotoscopia e outras tecnologias de captação de imagem relacionadas ao mercado audiovisual, confesso que dificilmente uma outra técnica ou módulo de exibição conseguirá me impactar tanto quanto a originalidade desses produtores japoneses. A indústria de cinema deveria reaprender a pensar a sétima arte e seus métodos de produção dessa forma!


Abertura da série:


 

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Quadrinhos: "Mesmo Delivery", de Rafael Grampá



Dois caminhoneiros, uma estrada, uma carga indecifrável a quem os entregadores sequer podem ver, um trabalho perigoso. A reunião desses poucos elementos já é o suficiente para termos uma história com requintes de crueldade e morbidez. Sem contar o clima dark proposto pelas aves negras sobrevoando as páginas da revista no começo e no fim da história. Rafael Grampá, o quadrinista responsável por esse ácido e forte Mesmo Delivery, é isso: sarcástico, contundente, afiado como uma lâmina. E não tem a menor vergonha de se apropriar de tendências e estilos que vem se consagrando nos últimos anos em várias vertentes artísticas.

Em sua incursão por esse universo roadie ele agrega desde as obsessões tarantinescas até um clímax que lembra, em parte, os contos sobrenaturais do mestre do policial Edgar Allan Poe. E para que não venham me acusar de ter deixado de fora a música, é fácil perceber a influência de canções que vão de Peral Jam a Nirvana, passando por Creedence Clearwater Revival, quando folheamos cautelosamente - essa é uma palavra que precisa ser administrada com cuidado durante toda a leitura - página a página desse espetáculo visual. Seus traços brutos (tanto quanto os músculos de um dos caminhoneiros envolvidos na trama) que nem por isso perdem o rigor e a excelência quando unidos, compõem um conjunto muito bem tecido de cores e linguagem, deixando o leitor sem ar e, ao final da história, desejando mais e mais.

Grampá segue uma linha que tem se tornado referência no quadrinho nacional, principalmente depois da ascensao internacional de nomes como Gabriel Bá e Fábio Moon, que vêm arrebatando prêmios de renome no exterior. E esse estilo tem uma explicação muito fácil de ser definida pelos leitores: eles não tem vergonha de arriscar. Digo isso porque sempre percebi nos quadrinhos brasileiros uma vontade incômoda de parecer tradicionais em excesso (salvo, é claro, exceções lendárias como Henfil Angeli e outras feras de longa data). Já nessa nova geração de autores, ao contrário, não há limites no que concerne a reponder a pergunta: "O que esperar quando se lê um trabalho desses jovens geniais?". E esse é exatamente o grande mérito dessa obra gráfica. É inventiva e faz com que o leitor queira sempre um pouco mais no quadrinho seguinte.

Terminada essa experiência - pois trata-se de mais do que uma simples leitura -, chego a conclusão, como chegarão aqueles que ousarem enfrentar esse desafiador trabalho, de que mais do que mostrar um universo até então desconhecido para os leitores tupiniquins, Mesmo Delivery reinventa a arte gráfica nacional num patamar nunca antes visto na história da nona arte (pelo menos, a parte da história que nos interessa). Diálogos fortes, duros, sem pudor, batalhas sangrentas por motivos torpes ou medíocres, frases de duplo sentido, rixas, apostas e um sentimento misto de niilismo e redenção bem ao gosto do autor (procurem seus outros álbuns. Vale a pena!), que vem se transformando numa das mentes mais criativas - e corajosas - dos últimos anos. E isso por si só já vale uma conferida em sua criação. 


Matéria publicada na Universo HQ sobre Mesmo Delivery:
    
Preview da HQ:


quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Cinema: "Cisne Negro", de Darren Aronofsky



Até que ponto a palavra superação pode ser administrada? E a partir de quando perdemos o controle e nosso único desejo é o de ser o número 1 no que quer que façamos? Não é de hoje que os tablóides e os programas televisivos mostram o que artistas e desportistas são capazes de fazer para se manter no lugar mais alto do pódio ou em evidência na carreira, sempre conquistando novos papéis de destaque. O problema é justamente quando todos os limites do ético e do saudável são ultrapassados em nome de uma suposta fama ou mérito. E é aqui que reside o grande dilema da jovem bailarina Nina Sayers (vivida de forma intensa pela atriz Natalie Portman) no drama Cisne Negro, dirigido pelo cineasta Darren Aronofsky.

Escolhida como protagonista para a próxima montagem do balé Lago dos Cisnes, a promissora bailarina, ainda novata e não totalmente conhecedora das armadilhas que envolvem a sua profissão (e o mundo da dança de uma forma geral), tropeça em suas próprias dúvidas, divergências, na falta de coragem para assumir certos posicionamentos diante de uma mudança tão radical em sua vida, sem contar as sucessivas exigências vindas de dois focos distintos: a primeira dentro de casa, pela mãe, Erica Sayers (Barbara Hershey), uma relação praticamente possessiva, e a segunda profissional, enredada pela sedução e a cobrança excessiva de seu diretor, Thomas Leroy (Vincent Cassell, em atuação brilhante). Com o aparecimento da misteriosa rival Lily (a belíssima Mila Kunis), seus questionamentos internos chegam a uma condição que beira à loucura total. E somente com muita força de vontade e determinação será capaz de combater tantos "adversários".

Aronofsky mistura estilos que em muito lembra o cinema psicológico de Brian de Palma (principalmente pela condição claustrofóbica em que se encontra a personagem principal) e o estilo narrativo de Roman Polanski (com lembranças que remetem a Repulsa ao sexo). E dessa mistura de sobrenaturalidade com drama existencial ele cria uma metáfora para pensarmos o papel do ser humano numa sociedade tão exigente e que cobra tanto das pessoas, dividindo-a em dois grupos desiguais: os melhores e o restante da população. Com uma câmera na mão que surpreende ao focalizar a dor, o desespero e o sacrifício que envolve uma das formas de arte mais genuínas e fantásticas da história da humanidade, o diretor realiza mais uma película audaz - o que vindo dele é praticamente clichê, vide produções fortes em seu currículo tais como Réquiem para um Sonho e o seu trabalho anterior, o visceral O Lutador -, compondo assim uma cinematografia de extremos, algo que parece agradá-lo profundamente.

Em poucas palavras, Cisne Negro é subversivo por mostrar o balé além do espetáculo, das luzes e dos aplausos de agradecimento vindos do público. É forte, indigesto em alguns momentos - o cineasta não tem medo de pesar a mão ao retratar certas psicoses e desejos da artista que desce às profundezas de sua própria alma rumo ao estrelato -, brilhante. E, provavelmente, acredito que é isso que está faltando no cinema atual: um pouco de ousadia. E não meros efeitos especiais, ousadias tecnológicas e elencos esbeltos que mais funcionam como belas paisagens, porém sem conteúdo algum. A grandeza do filme está justamente em se expor, algo que a cinematografia mundial contemporânea parece estar desaprendendo nos últimos anos (Deus queira que não!).      

Trailer do Filme:

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Animação: "O Expresso Polar", de Robert Zemeckis



Nos últimos anos eu tenho achado as festas de fim de ano um grande porre. Já foi tempo que eu curtia natal e reveillon ao lado da família com vontade. Hoje, por conta da hipocrisia em que o comércio exacerbado transformou a festa - não se tem mais a consciência de que a data representa a época do nascimento de Jesus Cristo, muitos nem mesmo sabem quem ele é, e o que importa é faturar em nome do papai noel, fenômeno de mercado criado pela Coca-Cola lá pelos idos da década de 1930, segundo fontes (im)precisas -, prefiro a solidão (ou, no máximo, poucos parentes), uma TV ligada num bom filme e que o dia passe rápido, de preferência sem me incomodar. No natal desse ano, entretanto, o SBT fez o favor de reexibir a animação O Expresso Polar, criada pelo diretor Robert Zemeckis (de sucessos de bilheteria e crítica como De Volta para o Futuro e Forrest Gump: o contador de histórias) com uma tecnologia pioneira que transformava os atores em personagens animados. Pois bem: rever a produção me fez lembrar de antigos natais nostálgicos e cheios de alegria descompromissada (algo que anda em falta em tempos de globalização capitalista).

A história do garoto solitário que na véspera de natal embarca no expresso ferroviário que o conduzirá, junto com crianças de todas as partes do mundo, para conhecer o pólo norte e a casa do Papai Noel em pessoa, mexeu com meu arquivo memoriográfico mental de um tempo em que dormir com um olho aberto na expectativa de que o bom velhinho deixasse algo na meia, na janela ou onde quer que fosse (e acreditem: esse lance da chaminé, aqui na América Latina, é um grande furo na história original que nunca é bem adaptado para outras regiões do mundo, principalmente para quem mora em países tropicais como o nosso) era o maior barato e sinal de que a sua infância, normalmente cheia de sonhos, ainda estava longe de ter os dias contados.

Um dos grandes méritos do sucesso do filme, em sua época de exibição, além do trabalho realizado por Zemeckis, foi o afinco com que o ator Tom Hanks se envolveu no projeto. Aqui, Hanks encara nada mais do que seis personagens, dentre eles o próprio Papai Noel, num esforço criativo que, pelo resultado final, deve ter sido um tanto desgastante. Um pena, contudo, que com o passar do tempo e a insistência do cineasta em usar novamente a tecnologia em seus projetos posteriores (o épico A Lenda de Beowulf e o também natalino Os Fantasmas de Scrooge, baseado em clássico literário de Charles Dickens) o encanto tenha se perdido, bem como as bilheterias modestas - se levarmos em consideração o custo dessas produções - tenham alicerçado o insucesso do formato.

O legado deixado pela película, que vai muito além de um mero entretenimento infantil, tem a ver com um conceito que a atual sociedade não tem demonstrado muito interesse nos últimos anos: memória. Por vivermos numa era tão imediatista e onde tudo é lucro - motivos mais do que suficientes, como disse no início desse texto, para ter me desencantado com esse período de festas que encerra o ano - parece que estamos perdendo, gradualmente, a capacidade de nos encantarmos com as pequenas coisas da vida. E O Expresso Polar nos faz o favor de trazer um pouco desse lúdico, desse modesto, de volta às nossas vidas. E quem não gostaria de ser criança pelo menos mais um vez, nem que fosse para relembrar por poucos instantes tudo que a idade adulta e as exigências da maturidade o fizeram esquecer?

Trailer do filme:
 

domingo, 30 de janeiro de 2011

Literatura: "Lúcia McCartney", de Rubem Fonseca



Rubem Fonseca, para mim, é o melhor exemplo do que posso chamar de literatura nua e crua. É direto, não faz rodeios, não ilude o leitor com falsas promessas e artimanhas (que, nos últimos anos, quando penso em mercado editorial, só serve para transformar o livro em um caça-níqueis vazio) e adora trabalhar com temáticas do submundo social, algo que eu adoro tendo em vista que nada é mais insuportável do que personagens moralistas e rotineiros com finais previsíveis, desses que parecem tirados das novelas infames que a Rede Globo produz. Difícil encontrar um outro autor com uma carreira que impacte tanto quanto a sua. Num universo rodeado por prostitutas, policiais corruptos, agiotas, todo tipo de picaretagem e onde as ruas parecem falar, confessando seus inúmeros pecados no ouvido do leitor, Fonseca arrebata o seu público-alvo misturando estilos, tendências, fazendo de seus personagens gato e sapato e criando conspirações mesmo quando isso pareça impossível à primeira vista. E a prova viva desse intelecto arrojado e inquieto está mais do que evidente em seu terceiro livro, Lúcia McCartney.

Se existe uma palavra que resuma melhor essa seleção de contos é mosaico. Rubem se adapta a cada história criando nuances distintas e o que se percebe ao longo da leitura é que estamos diante de vários escritores dentro de um só. Como se fossem os heterônimos, criados pelo português Fernando Pessoa, dessa vez a serviço da narrativa. O resultado dessa façanha é o retrato de uma sociedade torpe, onde valores e ética são meros detalhes onde o que realmente importa é sobreviver, custe o que custar. E acreditem: os personagens aqui narrados levam esse desejo de sobrevivência às últimas consequências.

Seja na prostituta que dá título ao livro - que, de tão popular na época de seu lançamento, chegou a render uma adaptação cinematográfica realizada pelo diretor David Neves, tendo a atriz Adriana Prieto como sua intérprete -, no lutador de vale tudo do conto "O desempenho" que parece estar no inferno astral de sua carreira até que a maré vira a seu favor, no advogado de moral duvidosa de "O caso F.A" que transforma a busca por uma garota de programa em apenas mais um motivo para aumentar a sua já extensa carteira de clientes amorais, na paródia das falsas correntes milagrosas ilustrada em "Corrente" que, de crendice popular, viraram artefatos cults do cotidiano carioca, num típico assalto de bairro como o lido em "Manhã de sol" ou mesmo na forma abusiva com que se utiliza do idioma inglês para dar voz e corpo ao universo de seus protagonistas em "Correndo atrás de Godfrey", o escritor está - a cada conto e de forma cada vez mais intensa - deixando suas múltiplas facetas aflorarem, gerando uma personalidade alucinada e multimidiática. 

Uso de siglas, referências obtidas junto a fontes jornalísticas e materiais impressos de uso, até então, exclusivo de investigadores policiais, poemas, memórias pessoais fragmentadas, críticas, entrevistas, relatórios, roteiros de cinema... Esse pout-pourri de linguagens textuais presente em Lúcia McCartney faz da obra uma das mais inventivas da década de 1960 e mais atual do que nunca nos dias de hoje, levando-se em consideração tanto a carência de nomes no mercado que façam a diferença, se reciclando e modernizando-se a cada trabalho, quanto o fato de muitas obras chamadas atualmente de originais não passarem de meros arremedos ou ecos de autores passados (e, por conseguinte, mais brilhantes). Para muitos o livro pode até parecer confuso - nossos leitores da nova geração gostam mesmo é de tudo explicado em demasia e com finais que o satisfaçam -, violento, direto em excesso, enaltecendo certas falhas de caráter, mas em se tratando de Rubem Fonseca isso é mais do que natural. Até por que não se constrói uma fama de autor forte e decisivo, recluso a entrevistas e opiniões externas, sem se quebrar alguns paradigmas, não é mesmo?

     

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Musas: Kate Winslet



Aos cinco anos estreou no palco no papel de Virgem Maria, aos 11 já estudava teatro, com 13 começou a dar as caras na TV, em seu primeiro papel já como profissional encarava cenas lésbicas com a naturalidade de uma veterana e antes de completar 31 já havia sido indicada ao Oscar cinco vezes. Essa menina prodígio é Kate Elizabeth Winslet. Atuar, para ela, sempre foi como uma segunda pele (afinal de contas, os pais eram atores e os avós gestores de teatro, o que só contribuiu para que a menina desinibisse ainda mais). Para aqueles que costumam se afastar dos cinemas quando a beleza de uma atriz é evidente demais e costumam achar que isso é sinônimo de falta de talento, vão se surpreender com Kate. No caso dela, beleza e talento andam de mãos dadas a serviço de uma carreira das mais inventivas.

Seu começo em Hollywood não poderia ser mais arrasador: aconteceu em 1994, na pele da nada inocente Juliet Marion Hulme de Almas Gêmeas, um dos primeiros filmes do então desconhecido diretor neozelandês Peter Jackson, onde a menina já deixava claro ao público quais eram suas intenções artísticas. No ano seguinte envereda pelo mundo literário - algo que faria bastante ao longo da carreira - da escritora Jane Austen como a passional Marianne Dashwood de Razão e Sensibilidade, belíssima adaptação da atriz Emma Thompson com direção do cineasta Ang Lee. Em 1996, convencida pelo ator/diretor Kenneth Branagh encara a Ofélia da belíssima versão feita por ele de Hamlet, porém só passaria a ser realmente reconhecida ao redor do mundo depois de viver a Rose Dewitt de Titanic, o arrasa-quarteirão dirigido por James Cameron em 1997.

Passadas algumas produções de pouco destaque (seja de público ou crítica), volta a marcar presença em 2000, dessa vez como Madeleine, a confidente do escritor libertino, em Contos Proibidos do Marquês de Sade, belíssima produção de Phillip Kaufman. Outro papel de destaque em sua filmografia nessa época é o da jornalista Bitsy Bloom em A Vida de David Gale, drama investigativo de Alan Parker. Em 2004 uma nova retomada com o excepcional Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças, de Michel Gondry, dessa vez como Clementine, interesse romântico do protagonista vivido pelo comediante Jim Carrey. 

Após uma entressafra, em que participa de Em Busca da Terra do Nunca, cinebiografia do escritor e dramaturgo James M. Barrie, criador do personagem Peter Pan (e interpretado pelo ator Johnny Depp) e do musical sarcástico dirigido pelo ator John Turturro Romance e Cigarros, sua carreira volta à ascendente com o drama social Pecados Íntimos, de Todd Field, onde interpreta a esposa reprimida Sarah Pierce. Seus últimos trabalhos de destaque foram o drama de holocausto O Leitor, de Stephen Daldry (que lhe rendeu o Oscar de Melhor Atriz) e o mais conservador Foi apenas um Sonho, dirigido pelo seu então marido Sam Mendes, onde reedita a parceria com Leonardo Dicaprio nos papeis principais.

Atualmente filma Contagion, filme-catástrofe sobre um vírus mortal, sob a direção de Steven Soderbergh, além de constar entre seus próximos projetos participação no elenco de God of Carnage, próximo longa a ser rodado por Roman Polanski, além de negociar um papel (conforme informação captada no site IMDB) para participar do filme Americana, a ser dirigido pelo cineasta brasileiro Paulo Morelli. Difícil precisar até onde um talento desses pode ir, principalmente quando nas mãos de um diretor de peito, mas o fato é que é fácil entender o fascínio que Kate exerce sobre o público: é bonita, inteligente, sabe conduzir sua carreira como poucas em sua geração, encara qualquer desafio e, diferentemente de uma série de artistas vazios que andam em voga atualmente, veio para ficar. E os fãs só têm a  agradecer!

Momentos da atriz:

Recebendo o Oscar por O Leitor:

Em Almas Gêmeas, de Peter Jackson:

Em Romance e Cigarros, de John Turturro:


 
 

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Opinião Crítica: Esses artistas de plástico...



Quando postei nesse blog sobre a "festa" (considero-a assim, entre aspas) do VMB Brasil e a futilidade que paira sobre o meio artístico nos dias atuais, fui mal interpretado por parte de alguns colegas meus que acreditaram estar sendo o meu texto agressivo ao se referir a determinados "artistas" (novamente a necessidade do uso de aspas). O fato, contudo, é o seguinte: vivemos numa era de artistas de plástico, de gente que pensa que canta, que pensa que dança, que pensa que interpreta, que, enfim, pensa que tem algum tipo de talento, quando na verdade tem como único desejo aparecer na mídia, não importa fazendo o quê. Vide o Big Brother Brasil que voltou a enfeiar a programação televisiva nacional - que há muito tempo não é nenhuma Brastemp - em edição de número 11 (fico bobo como ainda tem gente interessada nessa babquice até hoje!).

Como detectar essas criaturas fantásticas que alucinam milhões de fãs fazendo inutilidades as mais variadas e inesquecíveis no mundo mágico do show business? É muito fácil. Aliás, nunca foi tão fácil encontrar celebridades descartáveis quanto nas últimas duas décadas. É só virar o pescoço para os lados e você se deparará com alguém querendo chamar a atenção. Seja num desses vídeos ridículos de dancinhas que as pessoas postam às toneladas em sites como You Tube e Vimeo, seja no conteúdo "altamente genial" de seus perfis no Twitter ou  no Facebook, eles estão ali, rodeando você, instigando-o a tê-lo como fã, a qualquer custo, seja a que preço for. E acreditem: eles estão dispostos a pagar!

Paro por alguns segundos para formar uma lista mental dessas pseudocelebridades do momento e veja quanta gente já consegui colocar nesse time fantástico de "estrelas" (não deu... tive que pôr aspas de novo): Fiuk, filho do cantor Fábio Júnior e prova mais do que viva de que falta de talento também se aprende em casa, a soçialite fútil Paris Hilton, a quase-atriz e quase-cantora Lindsay Lohan, Britney Spears - como esquecer dela fazendo playback no Rock in Rio 3? -, os magníficos garotos da "banda de rock" Restart, aquela mulher (essa nem o nome eu lembro!) que ganhou notoriedade cantando Vai tomar no cú e hoje é atriz de telenovela e tudo, os integrantes do Pânico na TV, recentemente consagrado numa pesquisa com o  prêmio de "Maior Baixaria da TV nacional" (sim, eu li isso em algum lugar), a falsa aluna da Uniban, Geisy Arruda, que nem no programa A Fazenda, da Rede Record, conseguiu se criar e, claro, não deixando de fora 99,9% das rainhas de bateria de escolas de samba e essas marias chuteiras que vivem de posar na Playboy e na Sexy e receber pensões de jogadores de futebol, intitulando-se modelos e manequins.

Abro a página de uma revista Isto É (ou foi a Veja? fugiu-me à memória nesse momento), uma edição especial que trazia uma lista das 100 pessoas mais influentes da atualidade no país e meus dedos ficam simplesmente estáticos ao se deparar com a presença de pessoas como Neymar, atacante do Santos, e Gisele Bundchen. Como esperar que uma sociedade que cultua esse tipo de gente e, muitas vezes, segue seus passos à risca, possa admirar artistas que não sejam de plástico? Se o próprio universo midiático faz de tudo para espantar da sua programação, e da vida dos espectadores, as pessoas inteligentes e que tenham algo a dizer de realmente interessante, o que esperar no final das contas? Como já perceberam ao longo da leitura esse texto teve muitos pontos de interrogação e aspas. E isso é proposital da parte deste autor que vos fala. Como vivemos em tempos praticamente irreais, em que tudo parece fantástico e exagerado em demasia, só pondo aspas e duvidando mesmo de tudo para conseguirmos seguir em frente. O que fazer? C'est la vie.

 

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Música: "MTV ao vivo Bailão do Ruivão", de Nando Reis e Os Infernais.



Nenhum outro gênero musical, a meu ver, é alvo de tantas críticas surreais e divertidas, seja da parte da opinião pública, seja da parte da crítica especializada, quanto a música brega. Lembro de certo programa da Rede Globo apresentado pela humorista Regina Casé em que ela foi coroada durante um festival de música como Rainha do Brega (com muito orgulho e pompa!) e das reações de dois primos meus, totalmente avessos ao estilo, reclamando: "Isso não é música. É, no mínimo, uma piada e de mau gosto". O brega, no final das contas, é isso: um divisor de águas quando o assunto é gosto pessoal, um segregador de opiniões, e se levado a extrema interpretação motivo de discórdia e até de briga em bate-papo de botequim ou festa de família. Porém, gostem ou não dela, está por aí, incomodando, fazendo a sua parte, alegrando aquelas camadas da sociedade normalmente de pouca ou nenhuma instrução - o que não significa em momento algum que ricaços e intelectuais não a escutem - e, volta e meia, ganhando novas roupagens, versões e homenagens em grande estilo. A última delas veio do ex-titã Nando Reis em seu excelente MTV ao vivo Bailão do Ruivão.

Não é de hoje que eu percebo que o cantor Nando Reis é uma incógnita. Eu sempre o achei deslocado quando membro integrante da banda de rock Titãs e, recentemente, tive a confirmação desse seu diferencial por conta de uma entrevista dada pelo próprio músico para a revista Billboard, defendendo que sua música era simples, sim, fácil de compor, por vezes vista como prematura por parte dos especialistas do mercado fonográfico, mas que era exatamente disso que ele gostava, pois nunca quis ser rotulado como compositor de "canções que deixam mensagens ou legados posteriores", como aconteceu com seus contemporâneos Cazuza e Renato Russo. No Bailão do Ruivão ele expõe esse raciocínio à máxima potência, cantando sucessos antigos que hoje podem até ser considerados como música cafona ou descartável, mas que certamente já foram ouvidos e cultuados pelas mais diversas gerações em algum momento de suas vidas.

O repertório é ótimo e conta com pérolas que embalaram os romances, aventuras e alegrias de muita gente. Nando não inventa, não compromete o baile proposto e cai no suingue, muito bem acompanhado pelos Infernais (afiadíssimos!), conquistando de vez as graças do público e oferecendo entretenimento fácil e sem ambição de fazer tipo (algo que tem me enjoado - e muito! - na atual MPB). Entre as faixas melosas e nostálgicas vale destacar os eternos hits Agora só falta você, de Rita Lee, Whisky a go go, da banda Roupa Nova e Muito Estranho, do outrora pop oitentista Dalto. Nando não esquece do passado roqueiro e presenteia a plateia com uma nova versão de Bichos Escrotos, exalta Tim Maia - como deixar o síndico de fora de uma festa dessas? - nos acordes de Gostava tanto de você, vai ao auge da idolatria brega cantando ao lado da Banda Calypso em Chorando se foi, antiga lambada do grupo Kaoma, chama os forrozeiros para pista, presença típica nesse tipo de evento, com Severina xique xique e encerra em grande estilo trazendo à tona a criança escondida no coração dos espectadores com Lindo balão azul.  

Podem me vaiar porque postei sobre isso aqui no blog, podem me criticar por conta de meu lado brega, oculto por toneladas e toneladas de Blues e Rock n' roll administrados ao longo das últimas duas décadas, e agora exposto de forma tão pueril nesse texto debochado, mas a grande verdade é que MTV ao vivo Bailão do Ruivão é um presentaço para qualquer fã de boa música e que respeita a diversidade sonora que existe em nosso país. E cabe aqui um aparte importante: quando li o livro Eu não sou cachorro, não, do escritor Paulo César Araújo (o mesmo que disputa na justiça com o cantor Roberto Carlos pelos direitos de veiculação da biografia do Rei da Jovem Guarda), em algum momento senti nas palavras do autor o desejo de dizer ao público que o brega - ou cafona - incomodava a tanta gente pelo fato de expor o nosso lado mais criança e que, no fundo, temos medo disso, por conta da necessidade social de amadurecermos a qualquer custo. Com o Bailão percebi essa metáfora presente de novo e devo confessar: nunca foi tão bom se sentir criança (e alegre) mais uma vez.

Alguns hits do álbum:
  
Muito Estranho:

Lindo Balão Azul:

Chorando se Foi (com a banda Calypso):


sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Lendas: Ayrton Senna (1960-1994)



Para compreender o que Ayrton Senna representou para o Brasil e para o automobilismo mundial é preciso, obrigatoriamente, tê-lo visto em ação nas pistas de corrida. Durante toda a minha adolescência, procurei entender o significado da palavra genialidade e, no entanto, nunca encontrei um exemplo que realmente traduzisse em atos o que o verbete simplesmente nomeava. Até aquele fatídico Grande Prêmio de Portugal, em Estoril, quando o piloto, no cockpit de sua Lótus Preta venceu a sua primeira corrida. Daquele dia em diante eu já sabia de antemão que a minha rotina nunca mais seria a mesma. Ela seria afetada de forma definitiva pelo talento de um rapaz que, com muito pouco, conseguiu arrastar multidões para a frente da TV e para os autódromos ao redor do mundo.

Assistir o documentário Senna, dirigido por Asif Kapadia e lançado em circuito nacional há poucos meses, faz muito mais do que simplesmente reatar o contato com o trabalho e a capacidade de superação desse paulistano que encantou uma nação através de um esporte que nem era a grande paixão nacional do povo brasileiro. Ayrton Senna da Silva foi mais do que tricampeão mundial, mais do que o Rei de Mônaco (enquanto vivo, ninguém ganhou mais vezes do que ele no circuito mais charmoso de toda a temporada), mais do que o eterno adversário, o piloto francês Alain Prost - rival lendário dentro e fora das pistas - ou mesmo o tresloucado inglês Nigel Mansell. Senna foi o símbolo de uma geração que torcia e admirava seus ídolos. Diferentemente de hoje, onde tudo não passa de jogo de cena dos patrocinadores, empresários e grana rolando mesmo nas decisões mais idiotas.

Elencar os momentos que fizeram do piloto o grande marco que foi seria uma tarefa exaustiva e digna de um biográfo (e não desse mísero blogueiro que vos fala), mas como esquecer da corrida que ele entregou na última curva ao parceiro de Mclaren Gerard Berger, pois a pontuação do segundo lugar era o suficiente para suas pretensões naquela temporada? E de sua personalidade forte ao devolver na mesma moeda a injustiça cometida contra ele pela FIA ao tomar-lhe o campeonato mundial no ano anterior por uso indevido de uma determinada parte da pista? E, finalmente, como deixar de exaltar o espetáculo que era ver Senna correndo debaixo de chuva, verdadeiro desfile que chamava a atenção de toda a crítica mundial? Poderia ficar aqui citando milhares de momentos inesquecíveis e ainda assim não conseguiria arranhar a estrutura do mito que esse fabuloso piloto criou em torno dele.

No dia primeiro de maio de 1994, em Ímola, mais especificamente na Curva Tamburello, o que o povo brasileiro perdeu foi muito mais do que um desportista, muito mais do que uma simples lenda. Ali parecia ter se encerrado um ciclo onde heroísmo, caráter e competência eram a tríade necessária para se superar qualquer obstáculo. Da partida de Senna até os dias de hoje, o que ficou que valha realmente a pena ser citado no circo da Fórmula 1? Por mais que me apedrejem os detratores de meus textos aqui nesse espaço, não posso deixar de registrar aqui o fato de que com a morte de Senna morreu o esporte que ele defendeu e honrou com tanta vontade. E o povo, carente, pede o retorno desses dias gloriosos até hoje.

Trailer do documentário Senna, de Asif Kapadia:

Primeira vitória de Ayrton Senna (Estoril, 1985):