quarta-feira, 6 de abril de 2011

Cinema: "Sucker Punch - mundo surreal", de Zack Snyder.



Poucas são as vezes em que saio realmente extasiado ao final de uma sessão de cinema nos últimos tempos (e me refiro aqui exclusivamente às salas de exibição e não as minhas experiências com a sétima arte em sessões privadas de vídeo). E Sucker Punch, de Zack Snyder, conseguiu isso! Já tem gente nos blogs de cinema e nas revistas especializadas metendo o malho no diretor e na produção, mas a grande verdade é que poucos hoje em dia passam perto da estética de Snyder quando o assunto é entretenimento (exclua-se desse comentário pré-requisitos como exigência, "filme para pensar" ou revolução cinematográfica). A fórmula, que começou a ser construída em filmes como Madrugada dos mortos e 300 e chegou a seu ápice com Watchmen, segue seu caminho de exuberãncia nessa história que é uma verdadeira homenagem ao nonsense.

Snyder conseguiu fazer praticamente todos os filmes dentro de um só filme. Existem atrações (a película, em alguns momentos, lembra um fascinante parque de diversões) para todos os gostos: a questão psicológica, a sequência de guerra avassaladora, o medievalismo, o aparato high-tech, o momento sci-fi com seus andróides de última geração e, finalmente, a beleza de suas protagonistas (e aqui exalto, com mais intensidade, a beleza da atriz Abbie Cornish. Meu Deus, que mulher é aquela!), ornamentadas pelo glamour dos cabarés, das private dancers. 

Contudo, a utopia das batalhas e das exibições privé, tudo é um mero disfarce para que Babydoll (a ninfeta Emily Browning) possa lidar, com mais facilidade, com a realidade torpe do manicômio Lennox House. Encarar a verdade num mundo como esse pode ser extremamente nocivo e, muitas vezes, a única escapatória é procurar através dos subterfúgios criados pela própria mente um esconderijo que lhe permita encontrar forças para continuar lutando e seguindo em frente.

Exageradamente comparado à A Origem, de Christopher Nolan (não vejo aquilo que se passa no mundo surreal de Snyder como um sonho de construção similar à aventura do recriador da franquia Batman), Sucker Punch é um pout-pourri de referências pop as mais diversas. Seja na direção de arte impecável - que constrói cenários diabólicos com a mesma intensidade com que arrebata os mais nostálgicos ao recriar o mundo burlesque das boates de strip-tease, tudo a serviço de suas personagens, para que encontrem os cinco objetos necessários a sua fuga -, seja na trilha sonora mista de cosplays e hits do passado, capitaneada pela força da voz de uma Bjork simplesmente arrebatadora.

Terminadas as quase duas horas de projeção o que resta ao espectador é render-se a genialidade de seu criador, sem dúvida uma das melhores mentes criativas que surgiram em Hollywood nos últimos anos, mesmo quando tem de lidar com preconceitos injustos e gente invejosa que não reconhece o seu talento. Talvez o fato de não se tratar de uma adaptação de HQ ou filme de vampiro, zumbi, bruxo, anjo ou outro fenômeno blockbuster do momento e trazer como mote da história uma saga de sobrevivência onde só os que pensam encontram uma saída (e eu não tenho visto a sociedade parando para pensar em nada de importância atualmente!) tenha afastado grande parte da plateia. Afinal de contas, o óbvio e o imediatismo paira sobre o mundo de forma desagradável. Entretanto, para quem busca um algo a mais, quem está atrás de uma mensagem que realmente valha a pena, mesmo que entremeada pelos trocadilhos, metáforas e ironias do diretor, Sucker Punch é a pedida ideal.

Impossível sair da sessão (se você realmente captou o espírito do filme) sem pelo menos, pensar a respeito da sua própria vida. Isso - repetindo a crítica do parágrafo anterior - se você pertence a tribo dos que ainda pensam em pleno século XXI.


Trailer de Sucker Punch:
http://www.youtube.com/watch?v=G68fHZig9nA
 

8 comentários:

  1. Concordo contigo em cada aspecto! Sucker Punch é um sopro de renovação de um ótimo diretor.

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  2. Eu discordo de você. Acho que "Sucker Punch" seria perfeito para o Robert Rodriguez. Ele saberia colocar essa história em tela de forma perfeita. Por mais que o visual desse longa seja maravilhoso, o tom exagerado das atuações e a história sem pé nem cabeça não funcionam...

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  3. Muito bom ver que mais alguém gostou do filme. Está certo que o filme tem suas falhas, mas cá entre nós, vários filmes tem algum defeito não é? Gostei bastante do longa!!

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  4. Me desculpem ser o chato, mas odiei o filme. É uma pena ver um cara tão ruim quanto o Zack ter tanto financiamento pra realizar cenas como essas, e realizar uma porcaria de filme. Achei o elenco ridículo - talvez Scott Glenn e Jon Hamm salvem -, as cenas foram mal construídas - 95% de slow motion + 5% de câmera tremida = cenas horríveis -, e as frases finais tiradas de um livro de auto-ajuda. Pra mim, a sequencia pós-lobotomia fala por si só: de que adianta criar todo um simbolismo entre o que é fantasia e o que é real, se você não vai deixar a dúvida? Esse cinema pré-digerido que se veste de criativo tem me enojado...

    Acho que escrevi demais! hhehehehe

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  5. O que eu acho é que o Zack Snyder quer ser o Frank Miller e não consegue!

    Ele já escorregou feio quando mudou as idéias básicas de Watchmen tirando alma da obra original. Transformou uma obra reflexiva numa exibição de pirotecnia. Em vez de Watchmen ficamos com outro X-Men (que não é ruim, apenas está em outro patamar).
    Sucker Punch foi vendido como entretenimento descompromissado, de estética de referências à cultura pop generalizada... e até certo ponto consegue ser bem sucedido neste quesito...
    mas comete SIM o mesmo erro de Inception e Shutter Island no sentido de banalizar uma obra que poderia ter um desfecho muito mais interessante.
    É certo que a trama consegue provocar alguma reflexão significativa do decorrer da história, mas o final é muito pedante, panfletário, didático... o filme entretem até certo momento, mas falha exatamente no momento em que muda a proposta para uma tentativa de uma elaboração mais filosófica.


    Frank Miller é muito mais descompromissado e anarquista na sua obra de entretenimento, e acaba atingindo muito mais efetivamente o alvo.
    Zack Snyder deveria estudar mais o seu ídolo...

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  6. Concordo com o comentário acima, exceto na parte sobre Shutter Island, FILMAÇO do Scorcese.

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  7. Eu li vários elogios sobre a estética do filme, mas na visão geral os comentários não estão sendo tão bons.

    Aí me deparo com este seu review... agora quero ver o quanto antes e espero ter essa mesma sensação após ver o filme.

    Abraços!

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  8. Eu adoro o Zack Snyder, penso que seja um realizador muito talentoso e já nos proporcionou grandes títulos. Confesso que não vi este filme, mas estou receosa, foi alvo de críticas mistas... Mas nada melhor que ver para julgar por mim própria, apesar do trailer não me ter suscitado grande interesse.

    Sarah
    http://depoisdocinema.blogspot.com

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