Eu já fui adolescente não faz muito tempo e ainda assim me surpreendo com o grau de alucinação que a atual juventude desse Brasil varonil em que vivemos cultua como modelos a serem seguidos. Outro dia desses, em uma de minhas infindáveis "viagens" pelo mundo mágico do You Tube, deparei-me com o misto de celebridade com coisa nenhuma chamado Felipe Neto. Ele produz vídeos num programete feito por ele mesmo chamado Não faz sentido! em que esculhamba a torto e a direito as modinhas que andam fazendo a cabeça da atual geração. Porém, ele próprio se esquece de que também é uma modinha passageira como tantas outras. Terminados os vídeos em que ele detona a galera que cultua Fiuk, a saga Crepúsculo, Justin Bieber e outras figuras antológicas do atual show business atual, pergunto-me: o que é um ídolo para a atual cultura teen?
O próprio jargão cultura teen já é um estereótipo a ser discutido. Tenho um vizinho, muito mais cinéfilo do que eu, que defende a ideia do teen como subproduto. "Toda vez que eu vejo um filme de hollywood ou uma peça de teatro ou mesmo um programa televisivo ser divulgado como voltado para a cultura teen, eu vejo aquilo ou como enganação ou caça-níqueis", diz ele volta e meia. Infelizmente, por algum motivo eu concordo em parte com essa declaração, pois os programas teens são realmente o fim da picada. E fico chateado de ver o acúmulo desses produtos infestando o mercado de entretenimento. Da compra da Marvel pela Disney Pictures até essas bandas de Rock Colorido (Meu Deus! O que é isso, no final das contas?) com seus cabelos sem noção, vozes esganiçadas e um discurso cheio de "tipos assim e assados", o meu refúgio é ir alimentando o meu desejo de manter a nostalgia viva em meu cotidiano e me reencontro com aquilo que marcou a minha adolescência (leia-se: Blitz, Lulu Santos, Stanley Kubrick, os romances de Jorge Amado, os quadrinhos da Turma da Mônica, entre outras referências) e não reforçando esse modismo, por vezes exagerado, em outras até mesmo vulgar.
Entre as mais diferentes tribos (os Emos e clubbers e geeks e góticos e outras dinastias), acabou-se o respeito pelo gosto do próximo. A turma fã de vampiros que se maquiam e andam pelo sol na maior pinta de galãs fica num quadrado diferente da turma que curte zumbis babando pelas estradas ensolaradas que, por conseguinte, não se dá com a galera que é fã de super-heróis e seus super poderes megalomaníacos e, não bastasse isso, não bate de frente com quem é fã de Iron Maiden e outros fãs do puro Heavy Metal e... E por aí vai, numa reflexão que levaria séculos para ser entendida em sua totalidade. É cada macaco no seu galho, cada um defendendo o direito a dizer que a sua banana é melhor do que a do outro. Uma questão de status, pura e simplesmente.
A conclusão final sobre o tema é que não existe conclusão final. Lembro de uma música do sambista Bebeto que dizia que "macaco velho não bota a mão em cumbuca" e decidi seguir essa prerrogativa. Infelizmente, vivemos um tempo de intolerâncias postas à prova 24 horas por dia. Bullying, levar vantagem sobre o próximo, homofobia e racismo são esportes nacionais cultivados com muito gosto por legiões e legiões de preconceitos que chamam o seu defeito de atitude ("Eu tenho atitude, mano, e é isso que as pessoas não aceitam", ouvi outro dia um tipo desses defendendo a sua moral torpe). Quer dizer que atitude agora é esculhambar os demais e passar por cima da opinião alheia em prol de um gosto pessoal e, no mínimo, duvidoso? Então - queira Deus que não - estamos fadados a extinção.
Eu fiz de tudo para que esse texto não soasse revoltoso ou reacionário, mas não consegui. Falar dos jovens, nos últimos tempos, me deixa assim: possesso. E pensar que, no meu tempo, chamavam a geração de 80 de Geração Perdida. E isso aí é o quê, então?